segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Memórias...

Lá fora oiço os gritos das crianças...
Gritos, misturados com gargalhadas,  canções... frases
No vai e vem... o vento trás-me essa mistura de ruídos...soltos
Por breves momentos sou arrancada, deste lugar, e entro para dentro das minhas memórias
Revivo, e vivo momentos de criança
Também eu no recreio da escola...com um pedaço de caco faço riscos quadrados, não simétricos no chão...desenho uma macaca
Que feliz....que eu sou...criança pobre...pura inocente...
Oiço ao longe o palrar dos pássaros... passeio pelo recreio da escola e vou cantarolando
Quem quiser brincar comigo que se meta aqui...e aos poucos, um ,a um ...põem  os braços em cima dos meus ombros e marchamos....agora já é um coro...quem quiser brincar connosco que se meta aqui.
Damos a volta á escola umas quantas vezes....o cordão cresce... cresce...e divide-se em dois.
Vamos jogar ao "quem tem mais força"
Divididos ao meio e... puxámos até um, ceder e o cordão rebentar...
Agora brincamos aos policias e ladrões...engraçado eu quero sempre ser o ladrão, da-me um gozo fugir á policia...
Brinca-mos á Cinderela, eu sou a gata borralheira, adoro perder o sapatinho...qual sapatinho? eu ando descalça,  sinto o contacto com a terra, os meus pés são autenticas solas...calejados do chão,( sim porque os sapatos são só para o dia de Domingo)
Ainda sinto o cheiro de Domingo... um cheiro diferente, uma frescura...um sonho...uma quimera...
(Hoje os dias são todos iguais)
Ao domingo há toalha nova na mesa...e comida melhor, ao domingo a Mãe leva-me á missa, ao domingo calço os sapatos, e a Mãe coloca-me um laço cor de rosa nos cabelos e veste-me o vestido de chita florido....óh como eu me sinto linda...
Eu não sei distinguir a riqueza da pobreza...porque eu sou feliz, não tenha tempo para comparações...
É...ali estou eu a brincar com as minhas amiguinhas, no riacho que leva a água ao milho, fazemos moinhos de vento...com pauzinhos e bogalhos...eu tenho uma boneca de trapos feita pela minha Mãe, lembro-me que quando fiz 7 anos tive a minha primeira boneca de plástico, com cabelos, meu Deus! guardei essa boneca durante anos....
Aqui estou eu.... Orfã de pai aos 5 anos, nunca soube o que era ter um pai, por isso nunca me fez falta( a gente não ama o que não conhece)
De repente o toque da campainha, arranca a criança e trá-la de volta ao mundo dos adultos.
 Fui criança, fui feliz!
Quando quero ver essa criança...ausento-me um pouco e vou visita-la.
Incrivel, como um som, uma palavra um cheiro nos leva a viajar no tempo...
Sem passado...não temos presente!

R.M.Cruz

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