quinta-feira, 23 de abril de 2015

O teu abraço


Vergada sobre o peso da saudade
Na escuridão dos meus dias
Vejo a luz ao longe
Não tenho forças de caminhar até ela
Sinto os meus ossos curvados e o meu coração arreado
E hoje, como se me tivesses ouvido
Vieste até mim, através do sonho
Abraçaste-me, e eu, ali aninhada sobre o teu abraço
Descansei
A noite nem sempre é tenebrosa
E as sombras nem sempre são assustadoras
Por entre os raios lunares, e os tons cintilantes das estrelas
Senti o teu conforto,o teu cheiro, o teu respirar
Tem noites que os sonhos se tornam tão reais.
Sem palavras.....apenas um abraço terno, e eterno.
O conforto que veio de longe
 Escutou o meu apelo
Dizem que somos feitos de átomos....de que serão feitos os sonhos?
Deitei a cabeça sobre os teus ombros, e respirei fundo
Tão fundo que senti o eco da minha alma
Entraste nela, pela luz ténue dos meus olhos
Ali permaneceste,até me sentires mais forte
Embalaste a saudade
E ela adormeceu
Revigorei o meu coração
Senti-te ir embora, vi a tua silhueta através da luz, e das tuas costas nasciam asas
Abriste-as, eram tão grandes que tapavam a minha janela
Abri bem os olhos e vi-te voar em direcção à lua
E a noite ficou completamente iluminada
Não te disse adeus
Uma lágrima saltou dos meus olhos,lambi-a com os lábios a sorrir
Soube-me a ti
Do eco da minha alma,ouvia-se o canto dos pássaros
E eu entrei dentro dela
Fiz-me pássaro e voei contigo.

R.M.Cruz
(imagem google)





terça-feira, 21 de abril de 2015

Não vás


Amor o tempo vincou em nós o momento decisivo
Aquele em que tu decidiste ir
Eu decidi deixar-te ir
Orgulhosos dos nossos feitos,fomos os dois até ao fim
Sempre na expectativa da desistência primeira
Qual Reis dignos da sua palavra,não voltamos atrás 
Como fomos infantis
Hoje não podemos reparar o erro,há erros irreparáveis
E nós esquece-mo-nos disso
Deixamos passar a nossa primavera, por puro capricho
Não me perdoo-o,não te perdoo-o
Esperemos o inverno,quem sabe ainda temos tempo
Até lá não me tires do teu coração
Aquece-me o nome e grava o meu rosto
Não mates a esperança
Deixa que seja a ultima a morrer,por asfixia de tempo
Os anos vão pesar,mais do que o normal
Carregam a nossa incúria,o nosso orgulho a nossa teimosia
Hoje sinto saudades do momento antes de errarmos
Quisera eu construir uma máquina do tempo
Juro-te que não seria tão orgulhosa
Agarrar-me-ia a ti, e implorava-te que não fosses embora
Tenho a certeza que não irias
Gritaria ao teu coração....amo-te e quero-te aqui, não posso viver sem ti
E a vida mostrou-me,que não vivo sem ti....
Vivo contigo em tudo de mim
Menos com a tua presença
Essa é a parte mais dorida do meu ser
A tua ausência em mim
Sei que voltarás no inverno
Já não teremos o cheiro da primavera em nossos corpos
Nem as flores nos nossos olhos
Os nossos braços não darão enlaços
As nossas bocas não terão o mesmo sabor
O tempo amadureceu-as demais
Os nossos corpos sentirão as gretas da vida
Não nos deleitaremos na nossa mocidade
Nem os nossos poros transpirarão prazer
Mas de uma coisa temos certeza
No nosso coração o amor ainda espera por nós
A nossa alma, almeja encontrar-se
E finalmente tocaremos o céu do nosso amor
E juntos entraremos no mar das nossas recordações
Recordando tudo o que nos fez felizes
E a nossa memória,vai esquecer-se que em certo momento
Tivemos uma triste decisão
E então seremos felizes para sempre
Ainda que o sempre seja breve,muito breve....

R.M.Cruz

(imagem google)



domingo, 12 de abril de 2015

E fui humana!

Hoje procurei-te nas folhagens verdes
Olhei o céu e confundi os ramos das árvores com os teus braços
Parecia que se estendiam para mim
E os raios de sol por entre as folhagens, figurava-se-me o teu sorriso
Por momentos confundi o cantar dos pássaros com a tua voz
E a aragem que acariciou o meu rosto trazia o teu perfume
Arranjei os meus cabelos,passei as mãos nos meus lábios
E de repente pareceu-me que me vias
Ali entre o céu e a terra, flutuei algures noutra frequência
Não senti os pés no chão, não me senti carne
Senti-me brisa, por cima da matéria
Por trás da montanha havia outra montanha
Havia caminhos em todos os sentidos e para lá dos caminhos havia mar
E as lágrimas eram rios de sangue, e os corações dos homens eram cristais
E as ruas eram pedaços de algodão, e as mãos das pessoas eram colos
E as Mães eram anjos
E os Pais eram outros anjos
E os homens eram de todas as cores 
E o amor era a língua Universal
E o horizonte não se via, porque era um mundo sem fim, e o mar dobrava-se sobre ti
E tu eras céu
E a Primavera desfez-se em pétalas de flores
E toda a terra inalava o  seu perfume
Continuei inebriada pelos raios do sol que teimava em penetrar  as árvores...possuindo-as!
 E as árvores enraizadas desmaiavam em êxtase pela envolvência do sol
 Senti-me intrusa
Senti o teu beijo
Senti  a saudade
Senti o  abraço
Senti o adeus
Sen-ti  fiquei
Sem mim também
Em matéria me transformei
E fui humana.

R.M.Cruz

 (imagem google)





terça-feira, 7 de abril de 2015

Renascerei

Não!
Não quero o teu amor por piedade
Não será amor
Será caridade
Dá-me o que tens, e que um dia foi meu
O meu coração
Ficou preso no teu
Dá-me a  minha alma, que mora na tua
Sou indigente
Vivo na rua
Dá-me o que é meu....minha casa meu tecto
Não tenho um carinho
Não tenho um afecto
Tudo levaste, eu tudo te dei
Cega de amor
Sem nada fiquei
Hoje durmo nos cantos, de um abraço qualquer
Perdi os encantos
Perdi-me....  Mulher
Perdi o meu rumo, na beira do cais
Já não como, já  não durmo
Já não vivo mais
Qualquer abraço me serve, qualquer beijo me dá luz
Qualquer um que me leve
Sou ferro,sou gelo, sou cruz
Tudo te dei
Estou nua por dentro
Estou vazia de amor
E cheia de vento
Não choro uma lágrima, não arranco o meu peito
A culpa foi minha
Assumo o defeito
Não me procures, não tenhas dó
Sobrevivo sem ti
Prefiro-me só
Afasta-te de mim, deixaste-me nua
Devolve-me a alma
Que ficou presa na tua
É o que me resta, para sobreviver
O que tens já não presta
Eu vou renascer
Levantar-me-ei, em campos de girassois 
Das mais negras batalhas
Nascem herois
E o meu coração, arrancalo-ei do teu
O que é seu ao seu dono
Só quero o que é meu
Depois da tormenta e da tempestade
Nascerá outro ser
Nascerá outra verdade
Tu jamais viverás, nas margens de mim
Renovarei a morada
Plantarei outro jardim
E o que foi, já não é, cessarei o meu pranto
Vou renovar minha fé
Vou vestir-me de branco
Enterrarei o machado, da minha desilusão
Outros amores hão de vir
Outros amores nascerão.

(imagem google)
R.M.Cruz