segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Vou-me embora!


                 Vou-me embora!
Vou-me embora,não porque me dizes para ir,mas porque não me pedes para ficar
E nesta ida que fico, e neste fico que vou,fogem-me os sentidos daquilo que sou e do que fui
A vida que tenho, e o que fiz dela
Talvez porque nunca estive atenta a mim
Foquei-me em ti
A insipidez dos teus lábios denunciam a tua ausência em mim
As noites ditas de amor, são só pela metade...a minha!
Os teus olhos estão distantes,baços,tristes, sem vigor
Entras e sais de mim como uma máquina que faz o seu trabalho e se desliga quando acaba a energia
Assim te sinto
Ausente de mim
Ausente de nós
Procuro vêr-te por entre as frestas  dos teus olhos, mas não estás lá
Tento sentir-te nas pancadas secas do teu coração, mas é como procurar-te no deserto da tua alma
Onde estás quando me tens?
Em que pensas quando me beijas?
Quem vês quando me olhas?
O que sentes quando te toco?
Não consigo imaginar que caminhos percorres...largaste-me a mão e já não vou contigo
Largaste-me o corpo e já não te sinto
Largaste-me a boca e já não me ouves
largaste-me o peito e já não me queres
Vou-me embora...
Enquanto consigo ver a porta
Vou-me embora...
Enquanto a minha loucura não me prende à tua ausência
Vou-me embora...
Enquanto ainda me reconheço como mulher
Vou-me embora...
 Enquanto o meu coração não se estilhaça contra as paredes da tua casa
Vou-me embora...
Enquanto a não petrifico na tua cama
Vou-me embora...
Enquanto tenho asas para voar, e a minha mente ainda lúcida me diz que chegou a hora
Vou-me embora enquanto a minha loucura não me obriga a ficar
Vou-me embora!

R.M.Cruz


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Nem sei se alguma vez se tem alguém...


Tive-te,mas não sei se te tive
Nem sei se alguma vez se tem alguém
Mas eu acho que te tive
Talvez por pensar que te tive achei-me no direito de deixar de te ter
E depois de deixar de te ter?
Não entendo por onde andam os meus sentimentos
Baralhei-os, como se baralha um baralho de cartas
Já não sei onde está o que me dava sossego, ou desassossego
Não pensei como era o tempo em que ia deixar de te ter                                                                 
E agora?                                                                                                             (foto,R.M.Cruz )
Se já te tive e não tenho
O que faço aos abraços que não são os teus?
E aos beijos que não tem o teu sabor?
E que faço com as lembranças?
E os amigos que eram nossos? De quem são agora?
E os momentos que tivemos,quem os tem?
Havia um vazio quando te tinha,mas agora há outro vazio ainda maior
Talvez pelo medo de não te voltar a ter
E se tiver,que faço com o outro vazio?
Há sempre um precipício em ter-te e em não te ter
Juro que não sei em qual deles me estatelar
Ao deixar de te ter, programei o meu voo rumo a um céu libertador
O que eu não sabia era que voei rés ao inferno, chamusquei as minhas asas
E a dor do fogo,deu-me uma vontade louca de voltar a ter-te
Mas a memória lembrou-me que contigo queimei-me mais ainda
Estou cansado,da minha inquietude, da tua lembrança em mim
Estou exausto de voar em circulo
Necessito urgentemente de romper a barreira da memória de te ter, e voar para dentro de mim
Sei que queimarei as duas asas, mas renascerei das próprias cinzas
Dentro de mim encontrarei os caminhos que me levarão para um lugar neutro
Onde eu me possa encontrar,para me ter!
Enquanto te tive, também me tiveste
Vou regenerar-me
A resiliência tem de acontecer
Para que eu volte a renascer
Havemos de nos reencontrar em outros voos
Onde os destinos já não se cruzam
Verei ao longe o teu sorriso, e ficarei feliz pela luz que cobre o céu
E tu verás o meu olhar,e saberás que te quero bem

(Inspirado num jovem amigo)

R.M.Cruz