sábado, 17 de outubro de 2015

Apetece-me fugir..................


Apetece-me fugir

Fugir das ruas gastas, dos candeeiros velhos,das más línguas e dos maus conselhos
Fugir dos mares de revolta, e da saudade de quem já não volta
Fugir das casas com falta de pão, e de quem não tem educação
Apetece-me fugir
Fugir de pessoas mal humoradas, que acham que são as mais desgraçadas
 Fugir das sombras do homem inculto, e das árvores secas que já não dão fruto
Fugir das esquinas  onde há mentirosos, escarram na rua, e maltratam  idosos
Apetece-me fugir
Fugir dos lábios secos que não tem sabor, da boca de alguém que não fala de amor
Fugir das madrugadas incertas, e das bocas famintas,achando mentiras nas coisas mais certas.
Fugir do caos de mentes fechadas, de politicas vazias e cheias de nada
Apetece-me fugir
Fugir daqueles, que semeiam pedras em vez de rosas, e me juram amor com frases manhosas
Fugir de quem duvida da minha palavra,matando a verdade a troco de nada
Fugir do insólito sem explicação, de crimes, abortos, e violação
Apetece-me fugir
Fugir de quem me sorri e me crava nas costas, facas afiadas e falsas propostas
Fugir do sonho que não é meu, e de quem não luta pelo  que é seu
Fugir de quem ri sarcasticamente, e do veneno da cobra que me abraça e me prende
Apetece-me fugir
Fugir do homem frio e bruto, da alma pesada sempre de luto
Fugir de quem me suga a verdade, fingindo pose de boa vontade
Fugir de quem mente descaradamente, ainda que saiba, que eu sei que mente
Apetece-me fugir
Fugir de quem é cego de amor e carinho, e que ao invés de afecto, esbofeteia o menino
Fugir de quem acha que tem sempre razão, e corta os laços, o amor e o perdão
Fugir do parasita que dorme sorrindo e se alimenta do que eu vou conseguindo
Apetece-me fugir
Fugir de quem estupra e corroí, do pedófilo que se move nas sombras e a criança destrói
Fugir de quem não sabe o que é a dor, que bate na mulher e diz que é amor
Fugir de quem nada teme, e lança o barco ao mar sem ninguém ao leme
Apetece-me fugir
Digo-te adeus, e despeço-me de ti, segue o teu caminho que eu..... não vou por aí!

R.M.Cruz
(imagem google)



 



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Não, não chores....


Abre-me os braços,ampara-me a queda
Atingiram-me em cheio, com um tiro certeiro
Não tenho chão
 Interromperam-me o voo...antes de te dizer que te amo!
Antes de te dizer que foste o meu grande amor
Abre-me os braços
Não me deixes cair no buraco infinito do escuro
Arrancaram-me as asas em pleno voo
E eu que trazia  flores primaveris para te entregar
Larguei as flores
Cairam sobre as casas, sobre os lares, sobre os olhos dos nossos filhos
Não sei de mim, sem asas para voar.Foi traição!
Querida, abraça-me agora
Preciso de te sentir, necessito do teu colo, do teu cheiro do teu pulsar
Tenho medo!
Estou em queda livre, o corpo já não me ajuda
Pesa tanto, como pesa este meu pesar de partida
Fica comigo,encosta-me ao teu peito
E diz-me que vai ser fácil
Diz-me que me encontrarás para lá da vida
Diz-me que não vai doer
Diz-me que o mundo não é nada.... e que a vida é  para lá do infinito
Diz-me que te voltarei a ver
Diz-me que tudo está bem
É escuro, dá-me a tua mão,segura-me  até não poderes mais
Segue-me até ao cais, não vires já as costas, nem desvies o olhar...segue-me para lá do horizonte
Não,não chores amor....não chores
Quero levar comigo o teu sorriso
O infinito é escuro,preciso da tua luz
Ajuda-me a entender....porque me mutilaram? Porque interromperam assim o meu voo?
Ainda havia tanto para te dar, tanto para nos darmos, não tenho tempo, não tenho tempo...
Largo no teu colo todo o meu amor, para que não fiques só
Ergue o rosto meu amor, enchuga as lágrimas
A vida é apenas uma passagem, e eu vou embora mais cedo
Esperar-te-ei do outro lado
Para que se complete o nosso fim
Já não tenho forças para te mostrar, o quanto foste importante para mim
Já não tenho forças para te agradecer
Nem para te pedir perdão, por coisas que fiz sem pensar
Já não tenho forças para te curar as feridas que causei no teu coração
Deixo-te os nossos filhos,alivia a tua dor.....
É neles que fica parte de mim, olha para eles e sorri
Não dês asas ao pensamento, dá asas ao coração
Para que não sintas o pesar da alma
Sorri amor, olha á tua volta, a casa fala de nós
Vive amor,antes que te cortem as asas!

(não acontece só aos outros, o atirador anda aí, e pode interromper o voo de qualquer um, façamos o que temos que fazer,antes que seja tarde)

R.M.Cruz



domingo, 11 de outubro de 2015

Um dia se fará luz......................



Doí-me o corpo pelo lado de dentro
Como se alguém me desdobra-se e me virasse do avesso
Olho os ponteiros do relógio e nada me dizem
Os ramos das árvores parecem-me braços nus e desesperados
Baloiçam ao vento numa loucura desenfreada
Tentam abraçar o ar,mas este ironicamente passa-lhes através das folhas
Fustigando-as ainda mais, tantos braços,sem abraços
E eu sinto-me do avesso
Como se o meu coração estivesse exposto,sem qualquer protecção
É outono,as folhas caem das árvores,melancolicamente em câmara lenta
E poisam no meu coração,são tão leves,mas caem como se fossem pedras
Como se cada uma  quisesse atingir-me em cheio
Não consigo reagir,tenho medo
Se fujo,é porque sou cobarde,se fico é porque sou submissa,se enfrento é porque sou malcriada
Os dias deitam-se,dando lugar às noites
E eu olho o relógio novamente,os ponteiros continuam no mesmo ponto
Os dias não têm cores, as noites são sombrias
Da minha boca não se ouve um único gemido,como se eu fosse nada
Existo apenas para mim,carrego o meu próprio fardo,tão pesado,que me enraizou
O sol fustiga-me o rosto, não consigo contempla-lo tamanha é a decadência em que me encontro
Fere-me a sua luz,gretam-me os lábios secos
Necessito de água,mas ninguém me mata a sede
Extinguiram-se os águadeiros
Não tenho forças....estou fraca, deixei-me apanhar pela maldade alheia
E eu que pensei que todo o ser humano era humano
Só agora compreendi que há corações de aço
O tempo? O tempo apenas me mostra o que eu nunca quis ver
Mas não resolve nada
Apenas assiste impávido e sereno á minha destruição
Haja alguém que me arranque deste bosque
Estou moribunda....
Haja alguém que me cultive num jardim
Eu sou apenas uma flor,com o coração do lado de fora

 ( Inspirado numa vida bem real. Dedicado a todas as pessoas que não têm força para sair do escuro depressivo em que se encontram.Um dia se fará luz,acreditem!)

"Nunca despreze as pessoas deprimidas.A depressão é o ultimo estágio da dor humana."(Augusto Cury )

(imagem google)
R.M.Cruz





 





sábado, 10 de outubro de 2015

Menina Mulher....

Ela era uma criança que não queria crescer
Mas o seu corpo não lhe obedeceu
Começou a crescer descompassadamente
Que não lhe deu tempo de se ajustar
Quando se apercebeu,já outras crianças bebiam dos seus seios
Já o seu ventre tinha sido rasgado
Já o seu colo fora preenchido
Já o seu corpo fora deleite
Já os seus olhos viam o perigo
Já as suas mãos faziam tranças
Já os seus ouvidos estavam alerta
Já a sua alma tinha outras moradas
Mas ela nunca aceitou o crescimento
Escondeu a criança dentro dela, e de vez em quando mergulha a fundo no seu interior
No labirinto do seu ser não é difícil encontra-la , devagarinho aproxima-se dela, abraça-a... trá-la para fora,diz-lhe ao ouvido: Nunca morrerás dentro de mim.....
E mulher e criança abraçam-se e brincam juntas até o sol se por e a noite dar o alerta
Está na hora da mulher levar a criança para dentro
Com muito carinho recolhe-a dentro de si, coloca-lhe uma flor no cabelo, e despede-se dela a cantarolar baixinho...(dorme meu menino estrela de alva,já a procurei e não a vi, se ela não vier de madrugada,outra que eu souber será pra ti,outra que eu souber será pra ti....)
E de repente o seu leito lembra-a da mulher, fecha os olhos e sente que uma lágrima cai na almofada.
Recolhe a lágrima, e lembra que tudo é uma questão de pensamento
E para adormecer, a mulher trás à lembrança as risadas da criança.
Apazigua o coração, e adormece num sono profundo,onde a realidade se mistura com as cores da noite.
Não sabe ao certo por onde andou,mas sabe que não andou sozinha.

R.M.Cruz