sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O tempo não me deu tempo.....


Olho o sol pelas frestas da janela
E penso.... como poderia ter sido diferente a minha, a nossa vida
Julgava eu,que ainda tinha muito tempo à minha frente
Mas o tempo não existe,porque a vida também não
A vida e a morte andam paralelamente ao nosso lado
Estou preso apenas  por um frágil fio, como uma marioneta
Quando o manipulador quiser,será o meu fim
Não tive tempo de me aquecer à lareira, nem de fazer amor contigo no chão da nossa sala
Não tive tempo de te colocar a flor no cabelo, nem de te fazer barquinhos de papel
Nem de ir ao lago contigo, não tive tempo de escrever um poema, nem de te dedicar musicas de amor
Não tive tempo
Estou pendurado.....com medo do vazio
O arrependimento não mata, mas torna a morte mais angustiante
Ai se eu pudesse ficar só mais um tempo, só o tempo de te amar de verdade
Amar-te não é ir para casa todos os dias,sentar no sofá e esperar o jantar
Amar-te não é ficar na cama ao domingo,enquanto tu cuidas da lida da casa
Amar-te não é deixar-te sair sozinha com os miúdos para o parque, enquanto fico a ver o futebol
Amar-te não é deixar-te ir sozinha às compras
Amar-te não é ver-te tratar dos filhos, e ouvir-te contar-lhes histórias até eles adormecerem, e ainda querer a tua atenção,o teu carinho,o teu aconchego, o teu corpo.
Amar-te não é dizer que te amo, amar-te é saber amar.....
Ai se eu pudesse voltar atrás
Amar-te-ia como tu imaginaste
Chegaria a casa, depois do trabalho, abraçava-te, assim....até esquecer o tempo
Sussurrava-te ao ouvido,que tive saudades tuas.....e mesmo ali na nossa cozinha dançaríamos a valsa que tu sempre quiseste, e  que eu achava ridículo 
Depois fazíamos juntos o jantar, e eu colocava na mesa dias de alegria, sonhos de nós dois junto com as gargalhadas das crianças
Levava-mo-las depois para o quarto, e éramos dois contadores de histórias, e quando o silêncio abundasse, pegar-te-ia no colo, e juntos abandonar-íamo-nos ao corpo um do outro
Afinal,amar-te era tão simples.....
Maldito tempo que não me dá uma oportunidade
A vida já se esvaia como rio que corre para o mar....assim queria eu correr para o teu colo
Mas vou em sentido contrário, e cada hora é um segundo....já quase não te ouço....sinto frio...
O teu corpo envolve-me num abraço, querendo-me de volta, mas não tenho forças para ficar, porque na verdade eu já não estou aqui
E hoje como nunca,senti o corte do ultimo fio,que me segurava ao corpo inerte e frio
Adeus meu amor
Levo comigo a pena, de não te ter sabido amar
Mas que pena tão pesada
Afinal amar-te era tão simples......


R.M.Cruz






domingo, 22 de novembro de 2015

Volta-te!


Volta-te
Não vás no sentido contrário
A direção leva-te sempre aos mesmos caminhos
A coragem de mudar, não é a mesma de voltar
Volta-te
Não olhes o passado, como se ficasses lá
Trazes nos olhos as paisagens ainda desfocadas
Porque o que ficou.não é para trazer
Liberta-te do que ainda doi
As feridas mal curadas gangrenam
Tornam-se num mal irreparável
A solução será mais dolorosa
Amputação
Volta-te
Estás tão focado no caminho errado
Que te habituaste a segui-lo
Mesmo que esse caminho te leve à distruição
Há tantas coisas novas à tua espera, à nossa espera
Esquece o que fomos ontem, lembra-te no que nos tornamos
Volta-te
Aprende a dar as mãos, aprende a abraçar
Não te negues ao amor, nem ao prazer de viver feliz
Não recues, estás a ser severo contigo,
comigo...connosco
Não é por aí que deves ir.....e tu sabe-lo
Então porque carregas esse fardo?
Está na hora de te libertares, de nos libertares
Não olhes mais para trás, foi lá que ficou o sofrimento
Porquê ir busca-lo?
Não faz parte do nosso código de honra
Amar-mo-nos  como merecemos
Volta-te
O dia já vai longo, o sol já se esconde na colina
Está frio,cada passo que dás rumo ao passado
Abre-se em nós um mar de gelo
Cai a chuva, é desta água que precisamos
E não das lágrimas salgadas, que se precipitam dos nossos olhos
Volta-te
É tempo de estarmos juntos, antes que o dia termine
E à noite se soltem os lobos e te devorem no caminho
Tenho medo, a espera é como vidro na minha garganta
E o sol está mesmo a deitar-se.
É quase madrugada e tu ainda não chegaste
Volta-te
Antes que seja tarde demais


R.M.Cruz 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

E tu és o meu Anjo.



A noite cai escura, revelando recantos de luz
O homem sonha com um mundo melhor, mas não luta por ele
As mulheres gritam por igualdade de direitos, mas não se dão ao direito de se respeitarem
E as estrelas só se vêm à noite, assim me vejo quando a cidade dorme
Sou uma alma inquieta,  não estou sozinha,há almas que choram, acorrentadas ao remorso de não se libertarem em vida.
E o mundo diz que avança
Mas o barco não sai do cais
E a noite traz recantos de luz,onde eu te posso ver
És anjo caído no meu céu,és estrela que brilha na noite da minha alma inquieta
E ouço soluços de crianças perdidas da Mãe
E gemidos de amantes que se entregaram antes da morte, e ouço a tristeza de um adeus
E o barco continua no cais
A bruma não deixa ver o que fica para lá
E tu és o meu anjo
Vejo as tuas asas..... cansado da queda, mas não vacilas
A luz que vem dos teus olhos, invade a minha alma inquieta
E o mundo não evolui
Tanto se fala em espiritualidade, mas ninguém a põe em prática
Parece um invento sem sucesso
E a noite trás-me vozes de arrependimento, e o lamento de um perdão que não foi dado
E o desperdício de uma vida mal vivida,não, não se pode voltar atrás
E tu olhas-me no recanto da noite,é de lá que vem a luz
Acalmas-me o espírito inquieto, dás-me a mão e afagas-me os cabelos
Já não sou jovem, sou como a noite, tenho frio,estou gélida 
Há lágrimas que tem que ser choradas,há noites mais inquietas, e almas atormentadas
Há anjos que velam o sono de espíritos que não sabem para onde ir
E o corpo cansado não sabe se dorme ou se sonha
Não sabe se é matéria ou  alucinação
Não fosses tu, meu anjo vestido de penas.... e eu nunca me levantaria de madrugada
Tamanha era a dor da pena de não te ver
E o mundo continua,como se nada fosse, pois já lá vão muitos milhões de anos, e homem continua a gatinhar....enquanto os outros animais andam quando acabam de nascer
O barco continua no cais, e a noite trás recantos de luz

R.M.Cruz