quinta-feira, 31 de março de 2011

ANJO DA MORTE.......

Gélida vou pela noite, onde tudo é silencio

Ouço apenas a morte… entre lençóis de linho branco.

Quieta, sossegada, apenas espera…

Gélida que estou, fico petrificada, ao senti-la

Ali á espera, sem pressa

Observadora

Apenas á espera, a morte…

Caminho por entre as folhas secas, sinto os meus pés de encontro ao chão, frio…

E lá está ela, quieta, sossegada, a morte…

E eu encolho-me ao passar, o meu cabelo desalinhado, as mãos suadas…

E lá está ela, serena, quieta, a morte…

Não se importa comigo, porque ela sabe que eu lhe pertenço

Sou dela…ela vai-me tirar da vida, porque a vida não e minha

E dela, da morte…

E assim tudo o que ela dá ela tira

Sem pressa, ela espera, serena, a morte…

E eu vou com ela, vou caminhando, gélida… passo por ela

Receosa, instável…

Com medo de fazer barulho

Não vá ela acordar, do seu sono sossegado

Dormindo entre lençóis de linho branco…

E eu vou com ela, a morte.

Ela leva-me com cuidado, porque eu sou dela

Afaga-me o rosto, sussurra-me ao ouvido…prepara-te que eu vou-te levar!

E eu vou com ela, a morte

Vou andando lentamente, sem tirar os pés do chão

Ela espera, sem pressa, e eu vou com ela

O dia chegará… quando ela quiser vem-me buscar e eu vou com ela

Arrasto os meus pés caminhando para ela, não fujo dela

Ela e a minha única certeza e minha companheira…

Falo baixinho, não vá ela acordar do seu sono sossegado, em lençóis de linho branco e eu vou com ela…a morte.

(Este poema é um dos meus preferidos)

R.M.Cruz

quinta-feira, 24 de março de 2011

Este Amor..................



Meu amor o tempo passa por nós sem aviso prévio

As rugas marcadas anunciam o fim…

O espelho da vida não engana

Quisera eu voltar atrás…

Para te dar mais um pouco da minha juventude

Saciar a tua sede de amor

Ai se eu soubesse que um simples pestanejar

O tempo corria veloz…

Como cavalo bravo sem fronteiras nem destinos

Ai como eu queria voltar de novo

A ser a tua jovem e bela musa

Que saudades meu amor, desse tempo em que só nós eramos donos do mundo

Nada faria prever que o tempo fosse traiçoeiro

Como a cobra que pica, ao leve passo do peregrino

Quem me dera meu amor, dar-te o meu corpo para teu deleite

Dar-te a minha alma cheia de sonhos

E o meu coração transbordando de amor

Mas… o tempo não esperou, fez como o vento e passou

Não teve piedade de nós

Invejoso do nosso amor, feiticeiro da nossa paixão

Ai meu amor como doi, a saudade no meu peito, da bela mulher de outrora

Que no meu corpo te tinha e nas minhas mãos te transportava

Toda a vida que só minha nos rios de amor brincava

Sonho de amor perfeito, de um amor que não morreu

Mas que o tempo por seu feito, não lhe deu tempo e fugiu….

Passo as mãos pelo meu rosto, tentando encontrar os traços

Que outrora lhe deu gosto

Entre risos e abraços

Fica na mente escondida, a recordação que é só minha

Que por momentos vivida

Eu fui musa eu fui raínha

O tempo não pode ter, aquilo que é só meu

Pode a juventude morrer

Mas não este amor que viveu!!!

R. M. Cruz


"Poema declamado na biblioteca Lúcio Craveiro Da Silva

No dia Mundial da poesia."


quarta-feira, 16 de março de 2011

O meu casaco velho


Está frio
Apressadamente vou ao roupeiro
Tiro um casaco á pressa
Porque tenho pressa de sair
Visto o casaco
Levo a mão á maçaneta da porta, preparo-me para sair
Mas...olho o casaco, e, falta-lhe um botão
Ai... não posso sair sem o botão,até porque o casaco
Só tem três botões, e falta logo o do meio
Volto para trás e procuro outro casaco
Este não condiz, este é frio, este já está muito velho
Xiiiii....este já o tenho há mais de vinte anos(porque é que a gente guarda coisas que já não se usam)mas eu gosto tanto dele.
Vou vesti-lo hoje, pela ultima vez
Depois ponho-o no lixo
Saio de casa a correr
Enquanto ando apressadamente, meto as mãos aos bolsos velhos do casaco, e sinto algo...
Tiro e páro para olhar
Observo...
E páro no tempo...
Já não tenho pressa...
De repente estou contigo no colo
Sinto o teu cheiro de bebé, cheiro a inocência
Vejo aquele olhar meigo, olhando para mim, com a certeza que eu sou teu porto seguro
O teu sorriso misturado com os gestos das tuas pequenas mãozinhas, querendo chegar ao meu rosto como se visses nele, lindos brincos de princesa.
E as tuas palavras inventadas, saindo da tua pequena boquinha, juntamente com pétalas de flores.
Os teus pezinhos cor-de-rosa, tão pequeninos, que parecem favos de mel.
O teu choro, encantado,que para os meus ouvidos são melodias de amor
Pego no objecto que tenho na mão, parece-me uma relíquia, um tesouro, encontrado nos bolsos do meu casaco velho, docemente levo á tua boquinha pequena, com lábios tão sedosos, que parecem feitos de seda da mais pura, tecida com o mais belo tear da vida.
De repente já não choras
Deixei de te ouvir e de te ver
Volto ao momento em que parei, olho mais uma vez aquele objecto mágico, que me fez recuar no tempo.
Ponho a tua chupeta novamente no lugar onde esteve vinte anos, guardando com ela momentos únicos, cheiros, emoções, e o meu doce colo de Mãe!
Continuo caminhando, mas agora sem pressa...para quê a pressa?
Se a pressa nos tira a vida a correr
Porquê a pressa se nos tira o que nos faz viver.
Vou voltar a guardar o meu casaco velho...e com ele a tua chupeta.


R.M.Cruz

sábado, 12 de março de 2011

OS MARES VOMITAM...


Abre-se a terra
Num grito de revolta
Declara guerra
Á humanidade louca
Os mares vomitam
E galgam as cidades
Levando o lixo para as extremidades
O homem insiste
Em provocar a Natureza
E a terra não resiste
A tanta impureza
Estranhos humanos
De saber limitado
Causando danos
Ao seu berço dourado
De verde vestida
Com seu manto de água
E tão ressentida
Tão cheia de mágoa
Vis assassinos
Matando a mãe
Que de fartura
E amor os sustem
A Natureza chora
Aos prantos
Sentindo a morte
Da flora dos campos
Os verdes se transformam
E mudam de cor
As flores nascem tortas
Contorcidas de dor
E as águas dos mares
Que sobem aos rios
E as frutas dos pomares
Moribundos e doentios
O sol não brilha
Com a luz dos seus olhos
O homem cegou-o
Com os seus entulhos
As estações mudaram
Confusas no tempo
As estrelas se apagaram
Na escuridão de um lamento
O vento perdeu o norte
Anda solto e sem rumo
A lua chora a morte
É o fim de um mundo
E as aves dos céus
Voam sem asas
Com penas dos seus
Sem ninhos,sem casas
Os homens que se dizem
Animais racionais
Digam-me por favor
Quem são esses tais
Os animais irracionais
São perfeitos na sua lida
Não destroem a Natureza
Dão-lhes força dão-lhes vida
E com tanta estupidez
Já não há mais para dizer
Calo-me de uma vez
Com vergonha de viver


R.M.Cruz

quarta-feira, 9 de março de 2011

MOMENTOS DE MÃE


Se vires no meu rosto tristeza
Não me perguntes, o porquê
Há coisas na vida da gente
Que se sente e não se vê
Não te poderei responder
Porque nada há para falar
Meu coração de mulher
Sofre... e insiste em se calar
Há coisas na vida da gente
Que não tem explicação
Coisas que só a alma entende
E transmite ao coração
O coração por sua vez
Diz ao olhos com franqueza
Que a alma da mulher
Está coberta de tristeza
Os olhos envidraçados
Não se podem mais conter
Vertem lágrimas disfarçados
Fingindo que dão de beber
E eu continuo triste
Sem saber qual a razão
Esta tristeza que insiste
Em não dar satisfação
Na minha alma mora o desalento
Que nem sei como lá chegou
Vivo apenas o momento
Que de suspiros me sufocou
Desilusão?talvez?
Ingratidão?não sei!
Sei que são tantos porquês
De vida que eu te dei
Há na alma uma saudade
Dos tempos em que tu, menina
Vivias na ingenuidade
Eras princesa e rainha
Vou alegrar o meu rosto
Para que o povo não veja
Quão grande é o meu desgosto
Que na minha alma peleja...
Não sabia que ser Mãe
Dói tanto na alma
Uma dor que nos sufoca
E nada na vida acalma
Podem se soltar os rios
Pode até secar o mar
Mas o coração de uma mãe
Para sempre vai chorar
Podem cair as estrelas
E o céu colar-se ao chão
Podem morrer as flores mais belas
Mas não morre o coração
A dor de Mãe não se acalma
Dói em todo o lugar
Dói no corpo dói na alma
É dor que não quer parar
Ninguém no mundo entende
O amor de quem é Mãe
Só quem é Mãe compreende
O sabor que este amor tem...
Estou solidária contigo
E com todas as Mães do mundo
Alma de Mãe é o abrigo
Do mais doce amor profundo



Momentos...

R.M.Cruz

domingo, 6 de março de 2011

Alguém viu a minha alma?


Algures, em algum lugar... está a minha alma
Procuro-a, mas não a encontro
Da minha garganta sai um grito ensurdecedor
Que faz sentir o aperto que há no meu peito
Alguém escavou um buraco dentro de mim
Sinto o meu corpo oco... escavado... vazio...
Ando sem saber ao certo o rumo que devo escolher
Mas eu nem sei se tenho rumo
Roubaram-me a minha alma...a minha vida está escura
Só...gelada...fria
A dor que sinto, no meu peito escavado, vai até ao ventre
E depois, lentamente sobe até á minha garganta
A minha boca seca, o meu cérebro, desorienta-se
Não tenho oxigénio
Desfaleço...sem forças...caio dentro de mim
Ninguém me vê...porque ninguém viu a minha alma
Roubaram-na de mim...
Sou um corpo sem alma...caminho moribunda
Por entre os labirintos do meu ser
A dor de alma é tão intensa, que as palavras são nulas, para a descrever
Vampiros de almas andam á solta...
Encontraram a minha...
Milhafres que se alimentam
Da alma dos outros...
Ladrões saqueadores de almas...
Como pude eu ser tão imprudente
Dei guarida aos saqueadores, abrindo a minha porta
Sou um corpo escavado, á procura da minha alma
Vivo no submundo da minha vida
No subsolo do meu ser
Não descansarei, enquanto não me devolverem o que me tiraram...
Se virem alguém com uma alma suspeita
Amarrem-no, prendam-no
Porque essa alma é minha!

Dedicado a alguém;)
Beijinho e muita força.
R.M.Cruz

terça-feira, 1 de março de 2011

A MAIS BELA CESTA


Hoje vou enfeitar uma cesta com as mais belas e apetecidas frutas.
Agora mãos á obra!
A cesta é o meu coração! Com o pano do carinho ,vou limpa-la bem limpinha
Começo por limpar alguns resíduos de mágoas, tiro aqui e ali umas migalhas de raiva, sacudo todo o mau humor, deito fora a preguiça, ponho de lado os pensamentos negativos, as palavras ofensivas,viro a cesta ao contrário e bato-lhe no fundo para que nada fique agarrado ás suas paredes.
Agora a minha cesta está vazia, pronta a ser cheia com as mais belas frutas da vida.
Com cuidado forro toda a cesta com veludo de amor, pego no meu marido e coloco-o no centro da cesta, ponho os filhos á sua volta, agora coloco as netas, e as Mães delas. Escolho os meus amigos, e como são todos diferentes espalho-os pela cesta, e aos poucos a minha cesta está a ficar vistosa, tenho ali um lugar vazio que é o dos meus pais, esse lugar vou enche-lo de saudade, não para que a cesta fique triste, mas sim porque essa fruta é muito apetecida e faz muita falta á vida.
Salpico a cesta com lembranças de outras pessoas que não posso esquecer, que me ajudaram a crescer e a ser a pessoa que hoje SOU, uma professora, alguém que me deu uma palavra de apoio na hora certa, uma cidade, um país, um abraço, um sorriso, alguém que me ajudou, naquele dia...um olhar, alguém que me cedeu o seu banco para eu me sentar, um empregado de uma loja compreensivo, um médico,um mendigo, alguém que me fez dar uma gargalhada,outro que eu encontrei na berma da estrada, um que me deu uma informação, outro que me estendeu a sua mão, aquela que me viu chorar e se apressou a me consolar, um parente distante.Existem tantas pessoas que passaram na minha vida e me ajudaram a tornar-me naquilo que hoje sou.
Agora vou escolher a mais bela fita azul, a fita da alegria, vou dar um grande laço de sorrisos, vou ata-la bem com o nó da amizade,depois preparo a mesa da minha alma, estendo a toalha da gratidão, e bem lá no meio coloco a cesta do meu coração!
Dedicado a todas as pessoas que deixaram algo na minha vida, não importa se foi bom ou mau, o que importa é que eu cresci e aprendi.....continuo crescendo e aprendendo.
Um abraço!
R.M.Cruz