sábado, 19 de março de 2016

Pai sopro de Anjo

Pai é  um sopro de anjo
Que acende a fogueira do aconchego,nas manhãs frias e tempestuosas
Como uma árvore de fortes raízes,que suporta os mais fortes vendavais
Pai é a mão forte que não te larga
É aquele que te aconselha,mesmo sabendo que não o ouves
É aquele que te repreende quando os teus passos vão a caminho do precipicio
Pai é muro de betão,quando se trata de defender a dignidade de um filho
É educação
Amor
Proteção





Pai é correnteza de sabedoria,é mar calmo é abraço forte
Pai é alma colorida por fora e inquieta por dentro
Pai está sempre presente,ainda que pareça ausente
Pai é a estrela cadente,que vês na noite escura,é desejo cumprido
É ternura
É força
É luz
Pai é amigo,que te abraça sorrindo
Que chora nas tuas quedas
Pai cala quando tu achas que tens razão
No silêncio eleva os seus olhos aos céus pedindo que te proteja
Pai é caminho lavado de lágrimas e aflições
Pai não sonha,ele vive o sonho
Ele sorri para ti, e faz o impossível para que sejas feliz
Carrega a tua cruz,quando desfaleces no caminho
Ele nunca tira os seus olhos de ti, vê-te crescer para vida,vê-te crescer para o homem,vê-te crescer para o mundo....mas nunca te ver crescer para ele...serás sempre o seu menino
 O tempo fustiga-o com os dias que passam à velocidade da luz
Os anos vergam-lhe os ossos,a luz turva-lhe a visão, e o corpo não lhe obedece
 Nunca se apaga a estrela do seu coração,ainda que ele morra na escuridão
Nunca secam as suas águas,ainda que ele morra na secura da tua ausência
Nunca perde a fé de te abraçar,ainda que o abraço nunca aconteça
Nunca tira os olhos da janela,na esperança de te ver caminhando para casa
Á noite na solidão da vida,por entre memórias que o tempo esqueceu
Ele escuta as tuas gargalhadas pelo vazio da casa, escuta os teus choros com medo do escuro
E a custo,levanta-se cambaleando até ao teu quarto, deita-se na tua cama, abraça a almofada sentindo-te
A manhã desperta-lhe os sentidos, de uma noite em claro,velando o sono do filho,que não sabe onde está.
As lágrimas trazem-no á realidade crua
Olha a casa vazia,e já não vê a abundância de risos, nem as correrias das crianças, já não vê os choros de joelhos rasgados das brincadeiras nas árvores...o seu olhar pousa na bola vazia no canto da sala, e na prateleira uma moldura, com sorriso de criança permanente.
Agarra-se a esse sorriso, e permanece nesse momento,até que a morte o venha buscar
Ele sabe, que nessa altura tu virás,mas....os seus olhos já se fecharam para sempre, e junto com eles os seus abraços.
E tu, farás uma retrospectiva da tua vida e chegarás à conclusão,que perdeste tudo.


(Dedicado a todos os pais e todos os filhos)

R.M.Cruz






sexta-feira, 18 de março de 2016

"Retratos" A Carta



Faz-se tarde para te dizer o que sei da tua ausência, faz-se tarde para te dizer a falta que me faz o teu abraço e o cansaço abalroa os meus sentidos, porque se faz tarde, para tudo o que já foi cedo.
Não sinto os meus pés no chão… vagueio pela noite à procura do teu sorriso, das tuas gargalhadas...do teu… bom dia mãe!
Arrancaram-te de mim….
Alguém aqui sabe o que é a dor de perder um filho? Não? Oxalá ninguém passe por isto, pois a dor é tão medonha que nos engole a vida, passamos a ser fantasma em busca de respostas que nunca chegam, e se um dia chegarem é tarde demais.
Malditos! Ele era tão jovem, nunca fez mal a ninguém, porque é que o ser humano se comporta como besta? Todos somos livres de ser quem queremos ser, se a minha forma de viver não interfere com a tua, porque me julgas? Porque  me subestimas? porque me desrespeitas? Não sou eu um ser humano como tu?  Somos seres tão cruéis tão horrorosamente infameis.
O sol já não brilha, as nuvens  negras povoam a minha mente, ninguém sabe das minhas noites, escuto no silêncio o choro do meu filho, que  partiu tão jovem, e não consigo tira-lo da minha cabeça, nem arranca-lo do meu coração, porque a sua alma foi acorrentada, pelas palavras de miúdos malcriados e cruéis,  que não mediram as consequências  dos seus atos. A cada palavra um soco, a cada indiferença um pontapé, a cada gesto uma facada, a cada preconceito, uma corda na garganta, asfixia total ….De repente a morte, só ficou o lamento de uma mãe que vagueia pelas margens de si. Uma vida arrancada, um mundo que não sabe amar, compreender aceitar respeitar.
Mataram o meu filho lentamente, pegaram na sua dignidade e levaram-no ao suicídio.
Aberração? Não! Paneleiro? Não!
Que raio de gente é esta? Que raio de mundo é este? Eduquei o meu filho com amor, e ele morreu com o ódio de quem o ensinei a amar.
Cabe na minha mão a incúria, de não o proteger de mentes venenosas, más, horrorosas….mas a inocência de quem não quer mal a ninguém, esqueceu-se  que o mundo não  é igual para todos, e nem sempre o amor protege, antes pelo contrario o amor torna as pessoas indefesas pela sua pureza de espírito
, pelo seu toque de magia, nunca pensei que o amor, fosse a causa da morte do meu filho.
Não! Não foi o amor a causa. Foram as vossas mentes perversas, foi o vosso desrespeito pela vida humana, pelo outro, pelo próximo.
O amor não tem rótulo, nem sexo, nem nome…o amor apenas É.
 Não mataram apenas o meu filho, a minha alma despiu o meu corpo e foi com ele.
Nos meus olhos ficaram os dele, para  guiarem o meu corpo  até à sepultura.
R.M.Cruz

quinta-feira, 3 de março de 2016

A lua chorou


Cai o orvalho em noites de horror
Um jovem é morto sem pena e sem dor

Sacaram-lhe a vida, de flor nos beirais
Papoila ao vento, silenciaram teus ais

As estrelas do céu, guardam segredo
Viram teu corpo, no chão do degredo

A lua chorou, triste e dorida
O a manhã raiou com o teu corpo sem vida

Estendido no chão, a relva teu leito
Teus pés atados, num corpo desfeito

Choram as aves, que dormiram contigo
Lágrimas de orvalho de um mundo de perigo

Calem-se as vozes, há crime no ar
Há silêncios ...nos corações a chorar

Morreu uma flor, na beleza da vida
Arrancaram sem dor, morte triste e dorida

Grito ao mundo...um jovem morreu
Numa sociedade que não o protegeu

Que o céu te receba, pronto a te amar
Que os anjos te cantem canções de embalar

Descansa na luz,na paz e no amor
Nos braços de Jesus nosso Senhor

Morrem crianças,ás mãos de quem os devia amar
Sou Mãe tenho filhos, estou triste a chorar


Dedicado ao jovem Rodrigo Lapa
R.M.Cruz