sexta-feira, 21 de julho de 2017

Um anjo no cais....


Caminho de novo sozinho como alma perdida no tempo
Não lamento os mares que cruzei,
Nem as noites em que não dormi
As pernas bambaleiam o coração não sabe voltar para casa
Olho o horizonte, e só vejo um barco perdido no cais
Assim sou eu perdido de ti,assim sou eu perdido de mim
Uma gaivota emproa-se no velho barco, e o casco bate contra o cais
Em sons secos e molhados,consoante as marés
É um som solitário, que ecoa dentro do meu peito
E neste desconfortante deserto de ti, não sei onde estou
A minha alma, evadiu-se do meu corpo,procurando a tua....
Deixou-me abandonado ás maldades da existência
Dói mais não saber de ti,do que saber-me perdido
Olho o cais de olhos fechados...e imagino um anjo branco caminhando nos escombros
Sinto o rosto fustigado pela fúria dos ventos, e som do barco contra o cais,persiste em me atormentar
Sinto o teu perfume,por entre o odor das águas mortas
Morri, e esse é o meu próprio cheiro
Não quero abrir os olhos,a tua imagem, mantém-se sobre o negro barco
Não houve um adeus,um até já,apenas te vi partir sem hora marcada
E hoje vejo-te de olhos fechados.
Nunca te vi tão bem
A cada passo que dás,deslizas como se não tivesses corpo
Os teus pés não tocam o chão,flutuas sobre as águas mortas
E eu ando perdido
Não sei voltar para casa
Dizem que a nossa casa está onde mora
a nossa alma
Então é para lá que devo ir
Mas não sei que caminho seguir
É neste momento que me estendes a mão,sei que és tu,pelo calor que emana
Cheira-me a maresia
E sinto-me perto,tão perto...
Há um anjo no cais,és tu que me esperas meu amor
Encontrei-te,encontrando-me
E a dor já não a sinto
E o barco?
As águas já se agitaram e o barco seguiu mar adentro
E eu meu amor? Eu finalmente estou em casa...
Há almas que morrem para viverem juntas

R.M.Cruz
(Foto:R.M.Cruz)