quinta-feira, 9 de julho de 2020

   Na bruma...


 Atravessei o meu mundo, para ir ao encontro dos teus olhos
Corri sem pensar, coloquei-me à tua frente, para fixar o seu brilho
Rapidamente notei a sua ausência,navegava algures entre o céu e a terra
Entre a realidade e o sonho
Por momentos pareceu-me ver para onde voaram, pareceu-me vê-los  na nostalgia da saudade
Que saudade seria a tua?
Da menina que foste?
Da mocidade perdida?
Das promessas que nunca foram cumpridas?
Do filho que não nasceu?
Do marido que não soube amar-te?
Do amor que não avança?
Teriam os teus olhos viajado no tempo? ou teriam feito uma viagem à tua alma?
Talvez...
Respirei fundo e mergulhei no teu olhar vazio,frio,ausente, sombrio,gélido.....
Para onde teria ido a luz dos teus olhos?
Já sei!
Correram para o futuro, o teu futuro!
Bingo.Lá estavam eles!
Felizes, cheios de luz e amor
Serenos....
Vi a tua alma nua...completamente despida de  magoas,  dores, responsabilidades,prisões,sofrimentos...
Tranquila...
Vi-te na orla da praia, passeando na maré  baixa ,pés descalços, sentindo o beijo das ondas ao ritmo do ir e vir...
Sentimentos de bem estar...
 Cabelo ao vento,  os raios de sol penetrando em cada fio, tornando-o resplandecente e mais dourado, que por momentos pareceu-me ver um anjo por entre a bruma do mar
Livre
Leve
Ás vezes, a felicidade do outro é também a nossa!
Quis ficar ali para sempre,perante a imagem quase divina
Mas o barulho das vozes no presente,acordaram-me daquele momento mágico
Quis voltar de novo,mas a entrada já não me foi possível
Tu voltaste quase ao mesmo tempo, o som do flach transportou-te
Há momentos que deveriam ser proibidos de fotografar
Ainda bem, que não há no mundo ,maquina alguma que consiga captar a imagem da alma
Isso sim,seria a maior catástrofe
Voltaste, olhaste e pareceu-me ver que demoraste algum tempo a readaptares-te ao presente momento
Como se tivesses transposto a barreira do tempo e ainda não sabias de que século vinhas e em que século estavas
Olhei-te e senti-te  recompor...
 Reajustaste a posição do corpo, encaixaste a luz no olhar, e voltaste a ser presente
Senti que as magoas voltaram e de repente a tua alma nua, vestiu-se de sofrimento
O corpo sentiu todo o peso do presente, vi que ele se cedeu ao receber toda a dor
E a imagem que vi na praia desvaneceu-se apenas com o clik de uma fotografia
Quem disse que os olhos não mentem? Só não mentem para o polígrafo de quem os souber ler
Talvez um dia volte contigo àquele lugar...


(Momentos meus,envolvendo o outro)
R.M.Cruz