sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Sabia que te encontraria


Rodopiando pela estrada da vida, sem medos e a abarrotar de sonhos
Sonhos que transbordavam dos pés, das mãos ,da boca do coração, da alma...
Sabia que te encontraria
Algures,não sabia onde,mas sabia que a qualquer momento te encontraria
Porque quando se é jovem e cheia de sonhos,acreditamos que o amor está ao virar da esquina
E tu estarias lá,eu sabia
Os sonhos alimentavam a minha certeza.
O livro da minha vida seria escrito por mim, e por mim seriam dadas todas as directrizes para um final feliz
Como em todos os contos de fadas.....o final seria triunfante!
Não haveria monstros nem madrastas,nem bruxas más
Não haveria criados nem escravatura, nem amores proibidos, nem cores estipuladas
Não haveria estereótipos nem preconceitos
Dizem que os anjos não têm sexo, assim eu escreveria a lei do amor...sem sexo!
E tu estarias lá,eu sabia
Serias uma espécie de guerreiro do amor,que me resgataria da estrada e me levaria para o alto da montanha
Ali construiríamos a nossa casa,sem palácios nem ouros,nem nada que nos fizesse corromper a dotes e posses monetárias.
Seriamos como dois indígenas,que vivem apenas da natureza e do bem do coração
Caminharíamos por toda a terra,alimentando-nos do que brota dela, e do bem dos corações da humanidade
Os nossos filhos andariam despidos de tudo o que lhes apoquentasse o corpo e a alma
Não seria bem o nosso caso,pois a nossa alma já se vestira da responsabilidade ao  sermos pais
Com o decorrer do tempo,constatei que de facto estavas lá ao virar da esquina
Mas o livro foi-se alterando,já não tem a forma do meu ideal
Os filhos vieram lindos e despidos,mas a sociedade vestiu-os e apoquentou-os
Nós não construirmos a casa na montanha,antes de nós, chegarmos já outros a derrubaram
Aboliram a lei do amor sem sexo, há ainda os resistentes e sonhadores,que não desistem de um mundo utópico.Mas há também os violadores, os mercenários os destruidores de sonhos,os sombrios,os malvados,os que não conseguem ver a luz, esses teimam em destruir o meu livro.
Os ouros,os palácios os dinheiros... rasgaram as almas e penetraram tão fundo que comandam o mundo
Esse mundo escraviza, estipula,manda,compra,vende,manipula, mata...
As cores persistem em rotular os sexos, para confundir o amor
Resta-nos cuidar do amor que nos une, restaurar as brechas,sarar as feridas,abri-lhes a janela,e deixa-lo voar,sem medo do mundo onde não foi idealizado.
Resta-nos ter esperança nos resistentes,nos sonhadores,nos que acreditam que não há rendição, só libertação e bem querer
Resta-nos acreditar que o livro vai ser reinscrito por criaturas divinas,talvez os anjos
Resta-nos abraçar o que temos e transformar o que está ao nosso alcance
Resta-nos,cuidar do nosso pequeno mundo,ainda que as lacunas existam
Resta-nos acordar os sonhos e continuar a caminhar de mãos  dadas
Resta-nos pouco tempo para finalizar o nosso livro,encaminhemos a nossa história para um fim triunfante.
Um fim onde tu eu sejamos indígenas e onde o céu nos aguarda para um recomeço
R.M.Cruz