quinta-feira, 13 de março de 2014

Há dias que canso!


Há dias que canso!
Canso do teu olhar ausente, da palavra que não foi dita
Canso da porta aberta, da cama feita, do quarto arrumado
Há dias que canso!
 Canso das pedras do chão, e das pessoas que passam, das saudações forçadas
Canso da poesia,  canso das canções de amor que ouço sozinho
Canso do grito na noite e do silencio que me apavora, e canso de gostar de ti
Há dias que canso!
Canso da casa deserta, canso de te esperar, canso de ouvir o telefone com todas as vozes, menos a tua.
 Canso das aves que voam, e não me levam com elas, canso dos poetas e dos seus sonhos



 Há dias que canso!
 Canso de me lembrar de ti, canso de emaginar o teu rosto, e as tuas caricias
Canso de dançar o tango sozinho, e de me sentar na cadeira já gasta, canso da mesa da sala
Canso do cigarro aceso, canso dos desenhos que invento
Canso do teu abraço, que ainda espero, canso dos teus beijos que me prometeste, e canso de gostar de ti
Há dias que canso!
 Canso do gato que me atormenta, pedindo-me mimos, e do cão que ladra lá fora anunciando todas as visitas, menos a tua.
Canso do peito rasgado, da dor da saudade, canso do teu perfume, que fica na casa em vez de ti
Canso dos pratos na mesa, e da vela apagada que morreu  á tua espera.
Canso de olhar a lua,canso das estrelas, do sol, do mar e canso-me de mim
Há dias que canso!
Canso das flores do jardim, que se abrem na tua ausência, cando do sol que entra pela janela, quando tu não estás.
 Canso dos filhos que nunca tive, e das flores que não te dei, canso de todas as mulheres, que me lembram de ti.
Canso dos encontros que imaginei, canso do meu corpo cansado da tua ausencia, canso da expectativa que me levanta e me derruba.
Há dias que canso!
Canso do comboio que passa e não pára naquela estação, canso-me do carteiro que não trás carta tua, canso de quem me pergunta por ti.
Canso do filme e das lágrimas que choro, do frio que sinto e do calor inventado canso da revolta
Há dias que canso de gostar de ti.

R.M.Cruz

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