domingo, 23 de março de 2014

Deixa a porta aberta


Deixa a porta aberta
Para que eu não sinta a dor da partida
Não arrumes as chávenas de ontem
Não me digas adeus
Sai pela madrugada....antes mesmo do sol nascer
Dá-me tempo
De sentir a tua falta
Não me digas nada
Dá-me um beijo como sempre fazes
Deixa ficar na minha boca o teu sabor
Dá-me tempo
Deixa o teu perfume no ar....e os chinelos pelo chão
Não leves ainda os abraços
Abraça-me como se viesses á noitinha
Aconchega-me os lençois
Sussurra-me mais uma vez ao ouvido, que me amarás para sempre
Ainda que o sempre termine hoje
Não feches a porta, o seu estrondo seria como uma facada no meu peito
Se tens de ir...vai!
Mas não me digas adeus
Nunca voltes para vir buscar os chinelos, nem nada que te pertença
Vou pensar que morreste
Vou deixar o meu coração acreditar
Jamais eu conseguiria viver....sabendo-te com outra mulher
Pouco a pouco o teu perfume vai-se esvaecendo no ar
Se eu um dia passar por ti, direi a mim mesma que vi um fantasma
Se o meu coração teimar em sair do peito, amarralo-ei com a corda da saudade
Para que ele pense que morreste.
E se um dia eu encontrar outro amor
Dir-lhe-ei que tu nunca exististe, porque um amor não morre, nem se vai embora
E as chavenas que ficaram sobre a mesa, serão as mesmas....provarei a mim mesma
Que tu morreste, e mas deixaste por  herança.
Os teus chinelos....dar-los-ei a um pobre
E direi que são uma reliquia tua , pedirei que os trate bem
Pois eles por momentos mantiveram a tua imagem para mim....são mais dignos do que tu
Não fugirei de um novo amor
Só porque o velho se acobardou e foi embora
Não desejo que sejas feliz
Pois a felicidade é para quem está vivo, e tu morreste quando foste embora
Não foste capaz de sentar e conversar
Quem sabe evitariamos  a tua morte.
Já não estou de luto, o sol entrou pela janela, e arrancou de vez a tua imagem
Abriu-me os olhos da razão, e mostrou-me que há amor para além do teu
Fecharei para sempre as portadas da saudade
Porque onde há amor, há vida.
Onde há amor a saudade esquece-se de quem foi embora
E tu foste
Para sempre.

R.M.Cruz


(momentos que não são meus, mas que os torno meus....o poeta é um ladrão)






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