sábado, 14 de setembro de 2013

Mulher da vida

Mais uma noite...sinto ainda no corpo o amargo do beijo que nunca foi dado...
A blasfémia da escuridão nos meus olhos
Talvez a insensatez de uma escolha mal feita
Um gesto imcompreendido, esta maldita necessidade de fazer o que quero, e não quero...
Este vicio que me atormenta e me deixa sobreviver
Não sou mais de que um corpo... instrumento de trabalho
Poderia ser outro trabalho qualquer, todo o trabalho se faz usando o corpo e a mente
Eu uso o corpo e ausento a mente
Vendo sexo
Mas não vendo a alma.
Os homens são como troncos de árvores secas, dentro de mim...evito olha-los nos olhos
Porque por dentro dos olhos há fantasmas, e remorsos....há sombras e solidão
Há um animal que uiva.....na procura da lua cheia...os meus seios são duas luas e dois sois (consoante a necessidade de cada um)
O meu ventre é o pasto verdejante...onde eles se deleitam, onde correm rios de frieza, e correntes de insatisfação.
A entrada do meu corpo, é uma caverna quente, onde eles se aconchegam e se aquecem, para seguir viagem....
Há quem diga que eu vendo amor...
Não, não há amor que se venda
Muito menos o meu
Há quem diga que ganho dinheiro fácil
Não, não é dinheiro fácil....é dinheiro rápido
Tão rápido como a estadia dos corpos deles no meu
Eles (os homens) veem á procura de prazer, mas nem sempre o encontram
Porque é uma mistura de remorsos e sexo.....o que torna o prazer condicionado
Sou uma vendedora de ilusões, quem passa por mim, nem chega a conhecer-me
Entram dentro de mim...mas não me veem...porque eu não estou lá
Nem sabem o meu nome, sou aquela em que despejam toda a sua amargura...
De uma vida sem amor, porque se tivessem amor, jamais pagariam por sexo
Possuir sem ter....
Porque ter, sem possuir, é amor!
E vou caminhando , com as bagagens dos outros, carregando fardos que não são meus...servindo os homens das outras  mulheres....(Não se escandalizem....uma empregada de mesa, não serve também?)
Mulheres que  eles não conseguem possuir, sem ter...
Eu vendo-me para que me possuam....ilusão...sou posse efémera.
Sou apenas corpo, despido de roupagens, e de sentimentos...
Ausento-me por momentos
E deixo o corpo trabalhar sozinho, não sou eu! Todo o pranto fica em mim...
Eu sou como o ator, que despe a alma, para deixar entrar o personagem
Com uma diferença...o ator aos poucos empresta a alma ao personagem, eu só empresto o corpo.
Não, não quero a vossa pena, eu escolhi este caminho...poderia ter escolhido outro...sou como todos, vim ao mundo com livre arbítrio.
Mas quem disse que eu quero outro caminho? Não sou senhora da minha vida?
Pois então....sigo o que eu quero, ou o que não quero (problema meu)
Ouço vozes aplidando-me de tudo....mulher da rua...prostituta....meretriz.... mulher da vida....
Eis o meu nome verdadeiro.
Mulher da vida!
Não sejam hipócritas
E não somos todas as mulheres, mulheres da vida?




Ando por aí.... a ouvir pessoas, com alma e coração.
Esta é uma dessas pessoas.Com todo o meu respeito!

De uma mulher da vida, para outra mulher da vida

R.M.Cruz







Sem comentários:

Enviar um comentário