sexta-feira, 20 de março de 2015

Dei-te o melhor de mim


Quando somos jovens cabem em nós todos os sonhos do mundo
E o meu  maior sonho era um casamento perfeito, tão perfeito que me cegou
Amei-te como uma adolescente perdida...principalmente perdida de mim
No vislumbre da minha cegueira, só te via a ti
Foste como um eclipse lunar, em ti depositei toda a minha luz
E dentro de mim, mergulhou a escuridão
Nunca pensei que o amor cegava, nunca pensei que o amor nos arrancava o ser
Ser de SER! EU!
Deixei o meu ser contigo, e passei a ser TU!
A juventude só é bela pela inexistência de tempo no nosso corpo
De resto, nada mais tem de belo, a não ser a incuria da cegueira
A minha foi atroz
Senti-me por muitos anos, sem me sentir
Dei-te filhos, o melhor de mim, passei a redobrar-me em amor, amava-te a ti  e aos filhos
Hoje olho para trás e sei, que não sou exemplo de amor para ninguém
Eu estava enganada na minha forma de amar, e tu aproveitas-te bem....sempre foste um homem livre
Livre de tudo
Na minha ingenuidade, deixei-me levar para dentro de ti
De mim nada restou
A não ser estes longos anos de ausência do meu SER
Este meu viver em ti e para ti enclausurei-me no teu querer
Nunca tive olhos de ver, sentia-te feliz e isso fazia de mim uma grande mulher
Sem nunca me aperceber que deixei de me amar, que deixei de viver por mim
Deixei de pensar em mim
Deixei de ser EU
O tempo passou, e revelou o meu erro
Pena que o tempo, não me dá tempo de corrigir
Nem devolve nada, a não ser as consequências da minha cegueira
Hoje com tempo em cima do meu corpo....apenas aprendi uma coisa
Arrependimento não restitui o que foi perdido
Arrependimento não lava a alma, entope-a com culpas e lamacei-a com remorsos
Daquilo que deveria ser e não fui
Daquilo que deveria fazer e não fiz
Amar-me em primeiro lugar!
Amar o outro mais do que a nós próprios é um erro crasso
Eu sou aquela que me acompanharei até ao ultimo suspiro da minha existência
Fui desleal comigo, não me respeitei, não respeitei o meu amor próprio
Hoje sei quem sou, não sei o que fui, nem sei quem fui
Trabalhei como uma máquina, para te ajudar a criar o teu pequeno império.Hoje és rei e senhor!
Rasguei a minha carne,fui o deleite dos nossos filhos, sim a unica coisa que é nossa
Nada mais tenho de meu
A não ser este meu corpo cansado, de toda a vida que te dei
A minha luz quase se apagou...
Hoje vivo com um ténue  raio de sol
Encontrei a paz....vivo devagar, porque já não tenho pressa
Vivo o tempo que me resta, tentando perdoar-me, pelos danos que me causei
Não sei se algum dia, a minha alma terá flores, é inverno dentro de mim
Já não sei se a Primavera chega a tempo de florir o meu jardim
Estou cansada.....
Esperarei  o dia que se segue, e aceito-o como uma dádiva
Hoje amo-me, mas há amores que chegam tarde demais.
A ti, nada desejo, de ti nada quero, a ti nada devo.
Os filhos são meus por condição
Por isso hoje vivo sem cegueira


(Uma história verdadeira .Para ti (I.T. )
(imagem Google)

R.M.Cruz





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