segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sabia-te ao frio....

Olhei o banco de jardim e reparei em ti
Nos pés trazias uns sapatos rotos
Por onde pude ver nitidamente os teus dedos nus
O olhar vago........fixando o vazio da multidão
Numa das mãos seguravas uma flor murcha
Não sei bem que flor era, pareceu-me um bem-me-quer
Ou seria um mal-me-quer?
Noutra mão uma  bengala, que me pareceu ser um cabo de guarda chuva
Semicurvado no banco de jardim ...com o queixo apoiado na bengala
Apertando com toda a força a flor, como se a flor fosse um filho, que não querias deixar ir
Ali estavas tu....sentado no banco de jardim
O sol já não aquecia...era o entardecer de uma tarde tardia...
Observavas aquelas pessoas que passavam por ti, olhavam-te mas não te viam
Cada um ia apressadamente para suas casas
Para o aconchego do lar e da familia
E tu ali...apenas olhando o vazio da multidão vazia
E eu? eu...passei por ti, igual a todos os outros, com uma diferença apenas,olhei e vi-te!
Mas não fiz nada, maior o erro, ver e não agir... olhar-te e não intervir
Aproximei-me , e dei-te uma moeda,vá comer uma sopinha quente, foram as minhas palavras
Para minimizar os meus remorsos, de ser igual à multidão... iguista!
Tu agradeceste,olhando-me nos olhos,com uma ternura indescritivel 
Vim para casa, os remorsos não me deixaram dormir....a cama não era quente...ainda via o teu olhar no meu.
Sabia-te ao frio
Sabia, e não fazia nada!
E dei comigo a chorar, mas as minhas lágrimas de nada te valiam...tu precisavas do meu abraço
De uma cama quente, de uma familia...
Merda! que mundo cão!
E eu faço parte dele...deste mundo que olha e não vê...e dos que vêm e nada fazem.
Apercebo-me agora, que a flor era um mal-me-quer
Sim, um mal-me-quer
Não sei se serei digna de perdão....por certo,tu mal deste por mim, nem sei se comeste a sopa quente...
Mas eu dei por ti
No dia seguinte voltei ao jardim...queria ver-te, queria saber de ti, o teu nome, se tinhas familia.
Mas....tu já lá não estavas.
Serei eu a ter que me perdoar....serei eu a ter que seguir em frente.
R.M.Cruz




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