sábado, 16 de julho de 2016

Há ninhos no meu peito....

Há ninhos no meu peito
Das aves que em mim poisaram, no meu corpo feito árvore
Na minha alma feito cama
Estendo os lençóis brancos, para que a pureza não desvaneça
Nem o escuro me amedronte
Ainda existem papões no sótão da minha memória
Abro a porta devagarinho, empenada,ruge ao mais pequeno movimento
E eu encolho-me não vá o papão acordar
Afasto as cortinas  de teia de aranha, e o sol da manhã encosta-se nos beirais...na prontidão de um segundo investe contra a escuridão,clareando toda a minha mente
Não foi desta que o bicho papão me torturou
Mas ele espera, tem todo o tempo do mundo, há-de morrer depois de mim, jurou e cumprirá
Não sei de mim, nestes becos da minha alma ensanguentada,ferida,dolorosa fria
Não sei do meu sorriso de criança.Comeria-o o papão?
E nestes pensamentos absurdos de uma mente que não mente, busco desesperadamente a luz do sol que me leva ao mais belo lugar do mundo
Ainda ouço ao longe o baloiço da minha laranjeira, e os meus olhos estão lá,de cabeça para cima,vejo as laranjas por entre o azul do céu.
Parece que elas nascem das nuvens
Busco desesperadamente o silêncio para que aquela voz de anjo ressalte aos meus ouvidos uma voz doce e firme,chamando por mim
E eu corro, pés descalços,  e nas mãos a esperança de um aconchego, de um beijo, de uma ternura sem par
Melhor que isso os braços de minha mãe erguendo-me no seu colo
Não há papão que me encontre, nem fantasma que me apavore,não há casa mais bonita do que o coração da mãe.
A pobreza tem algo de nobre,tem a simplicidade e a humildade daquilo que verdadeiramente somos
Morar no coração da mãe é morar nos braços de Deus, é aqui que existe a maior riqueza da vida,o SER!
E mesmo que ela se ausente pela eternidade, ela nunca nos deixa sem casa,porque mãe é infinita
E sempre que o papão espreita, há uma luz que o cega
Há ninhos de amor no meu peito, com fios de saudade que apertam até sufocar.
E nesse sufoco há o tilintar dos sinos, de anjos  que se ajoelham em roda da minha alma, acalmando as minhas feridas, atenuando a minha dor...

R.M.Cruz



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