sexta-feira, 8 de abril de 2016

Já não colho flores.....


A vida passa num piscar de olhos
Os filhos crescem mais depressa do que as árvores
Mais velozes que o vento
Os filhos são como trovões em dias de tempestade
Vêm com o sol e desaparecem com as nuvens
Apanham-nos distraídos, e quando olhamos para o lado, já foram
E vieram, e já nos trazem flores em forma de netos
É assim, a vida é como um piscar de olhos
De repente aquela carinha inocente transformou-se num rosto de homem
Um rosto cheio de responsabilidades, de uma vida que se repete
Já não cabem no nosso colo, e queríamos tanto aconchega-los
Queríamos tanto beijar suas mãozinhas,juntar o seu corpinho ao nosso
De repente, há outra família dentro da nossa
A saudade do peitoril da janela ouvindo o cantar dos pássaros
E as colheradas de sopa, em forma de avião, e a boca garagem, albergando todos os carros dos amigos e conhecidos.
E os joelhinhos esmurrados, pedindo um beijo, balsamo de cura
E as flores do campo enfeitando todos os cantos da casa,fruto da recolha de um passeio pelo campo em dia de domingo.
Já não colho flores, nem sei o nome das estrelas, já não sei de que lado nasce o sol
Nem de que cor é a água do mar
Lembro-me do jogo da glória,em que a maior glória era estarmos juntos
E as musicas dos Scorpions  e do Roberto Carlos no disco de vinil nas manhãs de domingo
Não consigo esquecer os vossos sorrisos, e o barulho das pipocas a saltar no tacho
Não consigo esquecer os brinquedos,e a bicicleta com o travão estragado, a bola no canto da sala semi vazia, e os dinossauros espalhados no sofá magoando-me cada vez que me sentava
Lembro-me dos berlindes coloridos espalhados pelo chão,e a boneca esquecida no jardim
E os olhinhos vidrados a olharem para nós em dia de praia, a azafama da preparação do lanche, e o baldinho não podia esquecer,para a construção de castelos de areia, que depois se desmoronavam com as ondas do mar
E as noites em que ardiam de febre, e dormitava-mos como se a cama tivesse sido construída para o dobro das pessoas.
A vida passa num piscar de olhos....já não há estrutura para pega-los no colo...
Já não sei o nome do comboio da vida, nem sei para que servem os caminhos, e as janelas o que fazem fechadas.
A vida passa num piscar de olhos

R.M.Cruz


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