sexta-feira, 18 de março de 2016

"Retratos" A Carta



Faz-se tarde para te dizer o que sei da tua ausência, faz-se tarde para te dizer a falta que me faz o teu abraço e o cansaço abalroa os meus sentidos, porque se faz tarde, para tudo o que já foi cedo.
Não sinto os meus pés no chão… vagueio pela noite à procura do teu sorriso, das tuas gargalhadas...do teu… bom dia mãe!
Arrancaram-te de mim….
Alguém aqui sabe o que é a dor de perder um filho? Não? Oxalá ninguém passe por isto, pois a dor é tão medonha que nos engole a vida, passamos a ser fantasma em busca de respostas que nunca chegam, e se um dia chegarem é tarde demais.
Malditos! Ele era tão jovem, nunca fez mal a ninguém, porque é que o ser humano se comporta como besta? Todos somos livres de ser quem queremos ser, se a minha forma de viver não interfere com a tua, porque me julgas? Porque  me subestimas? porque me desrespeitas? Não sou eu um ser humano como tu?  Somos seres tão cruéis tão horrorosamente infameis.
O sol já não brilha, as nuvens  negras povoam a minha mente, ninguém sabe das minhas noites, escuto no silêncio o choro do meu filho, que  partiu tão jovem, e não consigo tira-lo da minha cabeça, nem arranca-lo do meu coração, porque a sua alma foi acorrentada, pelas palavras de miúdos malcriados e cruéis,  que não mediram as consequências  dos seus atos. A cada palavra um soco, a cada indiferença um pontapé, a cada gesto uma facada, a cada preconceito, uma corda na garganta, asfixia total ….De repente a morte, só ficou o lamento de uma mãe que vagueia pelas margens de si. Uma vida arrancada, um mundo que não sabe amar, compreender aceitar respeitar.
Mataram o meu filho lentamente, pegaram na sua dignidade e levaram-no ao suicídio.
Aberração? Não! Paneleiro? Não!
Que raio de gente é esta? Que raio de mundo é este? Eduquei o meu filho com amor, e ele morreu com o ódio de quem o ensinei a amar.
Cabe na minha mão a incúria, de não o proteger de mentes venenosas, más, horrorosas….mas a inocência de quem não quer mal a ninguém, esqueceu-se  que o mundo não  é igual para todos, e nem sempre o amor protege, antes pelo contrario o amor torna as pessoas indefesas pela sua pureza de espírito
, pelo seu toque de magia, nunca pensei que o amor, fosse a causa da morte do meu filho.
Não! Não foi o amor a causa. Foram as vossas mentes perversas, foi o vosso desrespeito pela vida humana, pelo outro, pelo próximo.
O amor não tem rótulo, nem sexo, nem nome…o amor apenas É.
 Não mataram apenas o meu filho, a minha alma despiu o meu corpo e foi com ele.
Nos meus olhos ficaram os dele, para  guiarem o meu corpo  até à sepultura.
R.M.Cruz

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