domingo, 17 de agosto de 2014

Não me salves.....

As madrugadas cerram-me os olhos
Num latir.... quase gemido
De um cão que ouço na rua
Chego a confundir-me com ele
Não fossem os meus ouvidos....Porque os meus olhos de nada me servem
Nas madrugadas sinzentas
Onde naveguei a noite inteira
Na penumbra  do inferno
De um sono que não veio
De uma viagem que não aconteceu
De uma caricia....que foi dada e não foi sentida
Tamanha é a podridão que invade o meu corpo
Não me salves deste dilema
Deixa-me afundar, no lodo viscoso, do vicio
É ele o passaporte para as portas do inferno
E eu quero ir....mas quero ficar contigo
Cada vez que me salvas, é apenas um adiar
Porque eu sei, que vou voltar
A salvação não existe, para quem já vendeu a alma
O vicio entranhou a minha carne, tomou conta das minhas veias
Vive em mim
Eu sou dele, e ele é meu
Mas tu, não desistes
Nessas noites, em que me calo, levantas o véu em que me escondo
E mergulhas á minha procura....pensas que me encontras
Mas enganas-te!
Aquilo que vês de mim....não sou eu, sou apenas o que resta daquilo em que me tornei
És, e serás sempre a barqueira dos meus sonhos
Não arredo o coração de ti, porque esse é o unico que ainda, não se deixou contaminar
Nele está plantado o amor, que me levou até ti, e é esse amor que ainda me resta
É o unico, que me trás de volta para ti, é por ele que eu não desço de vez ao inferno
Não fosse o latir do cão, pensaria que ainda é noite....
Noites eternas, estas, em que me procuras
Sei que sabes, da minha incuria, porque tu, de tanto que me queres bem
Vestes-te de primavera, para que eu pense que tu não sabes......
E escreves poesia....para que eu veja apenas as rosas.....mas tu sabes que os espinhos já se cravaram
És a minha guerreira, ainda que saibamos os dois, em silêncio....
Que nesta guerra não há vitórias
Apenas pequenas batalhas, que vamos vencendo
Tentando enganar o tempo......para que ele se esqueça de nós
E tu silenciosamente entras no barco
E consegues buscar-me nas portas do inferno
O meu maior receio,é que um dia.......nos percamos os dois
Na armadilha do tempo.

R.M.Cruz

(imagem da internet)




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