sexta-feira, 21 de maio de 2010

SAIO PELA NOITE



Saio pela noite fora á procura de me encontrar
Quando todos dormem e o silencio é meu cúmplice
Procuro em todos os lugares, mas não me encontro
A neblina tapa-me a visão, os murmúrios da noite tentam me assustar
As ramagens dos arbustos dançam ao meu redor
Tentando distrair-me da minha busca
Impedindo-me de viajar ao meu interior
Mas eu não desisto, vou caminhando devagar
Com os meus dedos tacteio a alma
O coração parece não me ajudar
Tira-me a calma, para me acordar
Poiso os meus pés em lado algum
Sinto o cheiro da bruma, parece querer que a siga
E eu vou caminho para o fundo da minha alma
Enrosco-me em mim, tenho medo
Medo do que me espera, do que vou observar
Do meu mundo interior aonde eu quero e não quero entrar
Vou seguindo a neblina sentindo que vou ao fundo
Os meus pés já não me conduzem
Ficaram retidos na noite, sós
Na entrada da minha alma, não quiseram testemunhar
O que eu estava prestes a alcançar
Por fim cheguei, não bati á porta entrei
Deparei-me com ela a minha alma
Estava cabisbaixa, triste, saudosa de mim
Abracei-a com o desespero que uma mãe abraça um filho á beira da morte
Aconcheguei-a com a ternura de uma mãe que acaba de dar á luz
Beijei-lhe o rosto banhado de lágrimas, com a ternura de uma mãe que encontra o filho perdido
Sufocada pela emoção rendida num abraço, peguei-lhe na mão
Saímos na noite
Sem medo, a neblina agora tinha uma luz
A luz da fusão de mim com a minha alma
Os murmúrios calaram, as sombras sorriram e as estrelas brilharam
E os meus pés sentiram
Já era manhã quando tudo acabou
Perdida na noite para sempre ficou
A rosa e a alma
E a rosa acordou…
R.M.Cruz

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