Caminho de novo sozinho como alma perdida no tempo
Não lamento os mares que cruzei,
Nem as noites em que não dormi
As pernas bambaleiam o coração não sabe voltar para casa
Olho o horizonte, e só vejo um barco perdido no cais
Assim sou eu perdido de ti,assim sou eu perdido de mim
Uma gaivota emproa-se no velho barco, e o casco bate contra o cais
Em sons secos e molhados,consoante as marés
É um som solitário, que ecoa dentro do meu peito
E neste desconfortante deserto de ti, não sei onde estou
A minha alma, evadiu-se do meu corpo,procurando a tua....
Deixou-me abandonado ás maldades da existência
Dói mais não saber de ti,do que saber-me perdido
Olho o cais de olhos fechados...e imagino um anjo branco caminhando nos escombros
Sinto o rosto fustigado pela fúria dos ventos, e som do barco contra o cais,persiste em me atormentar
Sinto o teu perfume,por entre o odor das águas mortas
Morri, e esse é o meu próprio cheiro
Não quero abrir os olhos,a tua imagem, mantém-se sobre o negro barco
Não houve um adeus,um até já,apenas te vi partir sem hora marcada
E hoje vejo-te de olhos fechados.
Nunca te vi tão bem
A cada passo que dás,deslizas como se não tivesses corpo
Os teus pés não tocam o chão,flutuas sobre as águas mortas
E eu ando perdido
Não sei voltar para casa
Dizem que a nossa casa está onde mora
a nossa alma
Então é para lá que devo ir
Mas não sei que caminho seguir
É neste momento que me estendes a mão,sei que és tu,pelo calor que emana
Cheira-me a maresia
E sinto-me perto,tão perto...
Há um anjo no cais,és tu que me esperas meu amor
Encontrei-te,encontrando-me
E a dor já não a sinto
E o barco?
As águas já se agitaram e o barco seguiu mar adentro
E eu meu amor? Eu finalmente estou em casa...
Há almas que morrem para viverem juntas
R.M.Cruz
(Foto:R.M.Cruz)