Há um lamento na noite
E o barco vazio no cais
Há uma sombra que passa
Nas portas e nos umbrais
Há uma mão que se estende
Na recolha de um afecto
Há uma luz que se acende
No caminho mais incerto
Há uma lágrima que rola
Num sorriso leve e solto
Há uma vida que se acende
Num corpo que estava morto
Há um mar de revolta
De tempestades erguidas
Há uma fera á solta
Tentando destruir vidas
Há um arco irís de esperança
No mundo de quem acredita
Há uma memória na lembrança
De quem partiu e quem fica
Há um sonho por sonhar
Na caneta do poeta
Há a sorte e o azar
De quem chora e se lamenta
Há uma criança a nascer
E um navio a partir
Há uma vida a morrer
E outra a resistir
Há um mundo de bravura
Dos audazes dos herois
Há uma amarga doçura
Em campos de giraçois
Há uma fugaz alegria
De quem ousa a liberdade
Ainda que seja utopia
De quem sonha ser verdade
Há um grito prisioneiro
Que se agita e não se acalma
Um pássaro de asas feridas
Nas grades da tua alma
Há uma mão assassina
No escuro que o homem tem
Há a voz de uma menina
Que chama por sua mãe
Há flores de primavera
De um jardim que é só teu
Há a mais linda quimera
No azul do teu céu
Pensamentos que se soltam
Da humana consciência
Seja de paz ou revolta
De lucidez ou demência
Há um mundo de seres humanos
De estranho coração
Investem os seus poderes
Contra a própria condição.
R.M.Cruz
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