segunda-feira, 13 de maio de 2013

A angustia dos pais.

Há momentos realmente marcantes.
Mais uma vez fui assaltada por um desses momentos
Vou partilhar convosco.
Sentada num banco, esperava a minha filha que tinha entrado numa loja para comprar umas sapatilhas.
Eu apreciava as pessoas que passavam, os seus rostos fechados, os seu sorrisos forçados, a tristeza que transparecia nas suas faces e nos seus olhos. Quando, de repente me assustei, com os gritos de uma mãe. -Leonor! Leonor!  (a senhora dirigiu-se a mim desesperada) não viu passar uma menina loirinha de  olhos azuis?
 Perante tamanho desespero tentei acalmar aquela mãe.Espere tenha calma (como podia eu pedir calma a uma mãe que julgava ter perdido a filha?) continuei...
-Espere respire fundo, pense onde a largou pela ultima vez.
-Eu estava dentro da loja e o meu marido estava com ela, mas de repente largou-lhe a mão e a menina sumiu,, foi assim como num piscar de olhos.
A minha sobrinha Inês que estava comigo, correu para dentro da loja aflita a procurar a menina,enquanto eu tentava acalmar a mãe.
-A menina vai aparecer, tenha calma....
A mãe estava pálida, lábios secos, corpo a tremer,olhos arregalados, completamente em choque.
-Como posso ter calma, a minha filha é autista, por muito que chamemos por ela, ela não vai associar, não vai responder entende? (sim entendi)
-(aconselhei) Vá para dentro da loja, que eu andarei por aqui a perguntar ás pessoas, a menina vai aparecer, tenha fé.
A Mãe voltou para dentro, gritando o nome da filha, Leonor Leonor, filha onde estás? ( ainda ouço,aqueles gritos angustiadamente cortantes).
Passados alguns minutos, o casal sai da loja, a menina ao colo do pai. Uma menina linda como um anjo, cabelos compridos, loiros  como o sol, olhos azuis cor do céu, abraçada ao pescoço do pai completamente serena, alienada a tudo á sua volta. A mãe dirigiu-se a mim agradecendo. (agradecer o quê?)
Eu, fiquei ali sentada, a ouvir a Inês a contar-me, que encontrou a menina  a brincar,dentro de uma tenda, serena e feliz. Não se apercebeu absolutamente de nada.
Para a menina, foi um dia feliz com a família.
Para os pais, este momento foi eternamente angustiante e sofredor.
Para mim e para a Inês foi o motivo,  da nossa conversa emotiva durante o dia.
Para o mundo esse momento não existiu.
O que para uns é tudo, para outros é nada.

R.M.Cruz



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