quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Podemos fazer a diferença!

No caminho da escola, acompanhando a Érica (minha neta) 
Deparei-me com uma senhora e uma menina, do outro lado da rua, completamente carregada, com sacos e sacolas embrulhos..... numa das mãos levava, montes de balões presos a pequenas fitas, eram balões alusivos ao dia halloween. Aproximei-me da senhora pronta para a ajudar visto que seguíamos o mesmo trajecto da escola, e na saudação das duas meninas apercebi-me que frequentavam a mesma escola.
A senhora aceitou de imediato a minha ajuda, tentei alivia-la um pouco da sua grande bagagem, ela agradeceu e contou-me (sem que eu lhe perguntasse) que levava aquelas coisas todas para a escola, para alegrar as crianças, senti-me um pouco envergonhada, pois perante tamanha dádiva eu ia de mãos vazias.
-Sabe eu fiz isto com muito amor, é que hoje as crianças não têm nenhum mimo, no sentido carinhoso e afetivo, anda tudo preocupado com a crise nem se lembram do mais importante... eu gosto de ajudar, vai ser muito bom para elas, sentirem e viverem este dia tão engraçado... eu gosto tanto do halloween, quem me dera ser outra vez criança, eu não sou daqui sabe? de onde eu vim,  vivia-se esta festa todos os anos com tanta alegria, e ainda bem que agora também a fazem aqui em Portugal, assim (mato) as saudades....(desabafos).
Chegada á escola a senhora começa a espalhar a alegria logo ali na entrada do portão, oferecendo um chapéu de bruxa á directora, depois na sala de aula, oferece outro chapéu á Professora, (a qual ficou estupefacta) e pouco a pouco foi tirando as coisas dos sacos, (espanto das crianças) uma abóbora,  um bolo, chapéus para todos, fita a fita ofereceu um balão a cada criança,( um pequeno pormenor,) velinhas e fósforos, tudo aquela senhora levava, para o grande dia de halloween.
As crianças estavam numa algazarra, a professora nem sabia o que dizer, dirigiu-se a nós agradecendo-nos, eu ergui os braços.
-Na realidade sinto-me envergonhada, pois tudo isto foi esta senhora que trouxe, e não eu, louvo-a por tal atitude.
-(Professora) Mas não era para trazerem nada.....as crianças estavam tristes, e agora estão todas tão felizes, vamos festejar o halloween com muita alegria!!!
Eu saí de mansinho,(envergonhada, confesso) a pensar.....como nós podemos fazer coisas grandiosas, dentro do nosso pequeno estatuto de ser humano, podemos na realidade, singularmente não mudar o mundo, mas podemos fazer a diferença no mundo de alguém... hoje aquela senhora mudou o mundo daquela sala de aula ,(incluindo o da minha neta) dando uma lufada de ar fresco ( os professores necessitam, de se sentirem apoiados).
Todos os dias são dias de aprendizagem!
Um bem haja a todos os que se interessam pela felicidade de alguém, e contribuem para que isso aconteça!!!
  
R.M.Cruz

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O que nos aconteceu?

Queria encontrar uma palavra para descrever o que nos aconteceu....
Procurei em todos os dicionários...em todos os livros...mapas...pergaminhos...bíblias...jornais...
Mas não encontrei
Ocorreu-me inventar uma, só para nós...
Mas todas as que inventei não transmitem  o meu desconsolo
Fiquei-me por esta...  DESILUSÃO! é a que está mais perto do que sinto.
Eu pensava que tínhamos construído o nosso amor, em cima da rocha mais solida do nosso coração
Pensava que tínhamos alicerçado com os matérias mais resistíveis da alma...
Contratamos os melhores engenheiros de sonhos
Usamos os melhores materiais da vida...
Tínhamos tudo para dar certo!
O que falhou amor, o que falhou?
Uma pequena brecha se abriu, e pouco a pouco foi entrando a podridão
Distraídos que estávamos...não demos conta...
A podridão entrou, rasteira, silenciosa, sombria, asquerosa, e foi tomando conta da nossa casa
Aos poucos instalou-se confortavelmente, no que era nosso
E nós não tivemos alternativa...
Onde está a minha Raínha?  Procuro, procuro....e encontro uma escrava
Onde estão as tuas vestes de seda pura? apenas vejo farrapos que o tempo rasgou
Onde está o teu porte de Raínha? Só vejo gestos  roboticos, apaticos e sem nexo 
Onde estão aqueles olhos, que me deixavam entrar na sua luz e fazer castelos de cores, onde eu era o teu Rei?Apenas vejo uma casa em ruinas sombria, vazia, fria...onde eu vagueio como um fantasma 
A nossa casa, está destruída, o nosso coração infectado, a nossa alma doente...
Onde está o nosso amor? 
Foi arrastado na enxurrada da podridão....
Entre todo este caos, e esta vida sombria, vejo ao longe uma pequenina restia de luz
Arrasto o meu coração até essa luz, na esperança, que ela me ajude a encontrar um pedacinho de amor
um pedacinho,que tenha ficado algures no meio dos escombros...
E com ele, esse pequeno pedacinho, vou acender uma grande tocha de luz, para que me vejas na penumbra da nossa casa.
E te lembres que um dia foste a minha Raínha, vivo na esperança de te salvar desse feitiço que te transformou em escrava...
E em noites de lua cheia, irei contigo ao mar, e pedirei á lua, para te proteger, e nunca mais ninguém te enfeitiçar.
Aconchegar-te-ei em lençois brancos de amor.... e ficarei ali, assim....contigo junto ao meu peito, esperando que o mar entre em nós, e leve todos os nossos  medos...pedirei ao Sol que aqueça as nossas almas regeladas pelas intempérias da vida.
E assim...amor, sonho que um dia esta DESILUSÃO, se levante das cinzas e se transforme na mais linda história de amor.



As estrelas também lá estão na praia, junto a vós, os AMIGOS!

R.M.Cruz
  



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Singelo momento.......


Estava eu na sala de espera do hospital,esta, atulhada de gente, quase nem se podia respirar (mesmo caótico) naquela imensidão de gente, lá estava eu, enquanto esperava, observava...  quando os meus olhos não mais se desviaram, a visão era deslumbrante. Ali sentada num dos bancos da sala, estava uma Mãe com um menino no colo,irrequieto...traquina, teria o menino um ano, (mais ou menos,) ele gritava, esperneava..... a Mãe na sua infinita paciência ajeitava-o no colo de forma a libertar-lhe os movimentos, sem pressão nem presença de nervos exteriores, o menino esse não parava, a Mãe aconchegou-o no colo e começou a cantar-lhe uma canção de embalar.....meu menino de oiro, é de oiro fino, não façam caso que é pequenino....o menino com os seus deditos tacteva o rosto da Mãe como se fossem de veludo, os cabelos loiros e compridos da Mãe tocavam-lhe o rosto cobrindo-o como se fosse um véu, protegendo-o de todos os olhares maléficos, pouco a pouco fechou os olhos parecendo adormecer....a Mãe continuou a cantar.As pessoas, essas, esperavam a consulta, insultando a vida o governo e o hospital, e a Mãe continuava, alheada a tudo. De repente o menino traquina volta á traquinice,( sono falso) pulava no colo...agarrado ao pescoço da Mãe, esta, com a serenidade de um Anjo, ajeita o colo a gosto, desabotoa a blusa branca, e desnuda uma mama , dando a beber ao menino o leite que dela jorrava, Mãe e menino eram apenas um, a Mãe não via o mundo, e o menino só via o mundo da Mãe. E eu via dois mundos o da Mãe e do menino, e o da sala  do hospital, de repente apercebi-me que ali, naquele momento existia mais um mundo o Meu.
Agradeci à Natureza e à vida por me presentear com o quadro vivo mais lindo que os olhos podem observar,senti-me uma privilegiada, pois no meio de tanta multidão, só eu tive olhos para aquele quadro tão belo.
Momentos.....

R.M.Cruz

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A voz dos poetas....

Ai se não fosse a tua voz
Essa voz que grita ao mundo
O silencio dos poetas
Que faz tocar os sinos de todas as catedrais
Ai essa tua voz em forma de grito
Dando vida ás palavras do poeta
Que na silencio da noite escreve
Almejando que o mundo o oiça
Mas....de manhã morre no ruído do dia
Ele o poeta sonha...sonha que um dia
Tudo será como ele escreveu
Que um dia as flores não morrerão
Que os rios não secarão
Ele sonha que um dia, todas as cidades
Se transformarão em montes verdejantes
 E  se enfeitarão com crianças brincando
E encherão o céu com melodiosas gargalhadas
E danças de Índio na  dança da chuva
Assim é poeta...sonhador....
Ele sonha que um dia o Mundo há-de ser como ele o vê
Ai poeta louco e tonto, para ele não há utopia
Nem muros, nem grades, nem prisões
Mas eis que chega o dia
E lhe rouba o sonho
Resta-lhe a tua voz em forma de grito
Essa voz que lhe dá a seiva para continuar
Rega-lhe a alma, para que não morra..
Essa voz é a voz de quem declama
De quem grita o silencio das palavras
Escritas e sonhadas pelo poeta
Essa voz é a tua Aurora Gaia
Sim! tu dás voz ao sonho do poeta...fundes-te em ti mesma
Entre o poeta e a voz
És como uma luz na escuridão
Ele... ela....o poeta, segue-a sem lhe perder o rasto
Porque ele sabe que a tua voz vai para onde vai o sonho

Dedicado com todo o meu carinho á minha querida amiga Aurora Gaia

R.M.Cruz


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Continuarei...................

Há dias em que precisamos sair da apatia
Dar um tempo? Tudo bem!
Mas não um tempo infinito...chega!
Hoje decidi fechar o meu coração para limpeza
Hoje não entras nele
Hoje preciso de lavar esfregar e deitar fora
Guardar limpar decorar
A ti ,vou meter-te no baú dos momentos inesquecíveis
Onde eu guardo religiosamente todos os bens de valores incalculáveis
De vez em quando irei lá buscar-te, para te dar um pouco de brilho
E  relembrar o nosso tempo...
Um tempo lindo
Mas que já passou...
Agora é hora de dizer... chega!
Chega de esperar que te decidas
 Enquanto vives a tua vida em experiências
Eu perco-a, esperando por ti
Não! Não és culpado de nada....
Sou eu que tenho que decidir, o que quero
E hoje decidi, não quero esperar uma eternidade...é tempo demais!
Não te deito fora! és muito valioso para mim
Quero guardar-te no baú das minhas memórias...para que nunca morras...
Não quero perder-te- nem esquecer-te...
Mas quero VIVER!
As jóias não se usam todos os dias
Terei momentos especais para usar as nossas recordações
Os nossos momentos....
Assim farei...vou lavar o chão do meu coração
Juntar os cacos que tu partiste...
Fazer a cama com lençóis coloridos....e nela vou desfolhar pétalas de rosas brancas
Vou trocar a cor das rosas...já não quero vermelhas
Depois....depois vou por na prateleira todos os teus presentes....
E sem dor, nem magoa....guardarei a tua fotografia...
Não porque não te quero ver....
Mas porque tenho que preparar a casa para  outro amor
Não é um novo amor, porque o teu continua...é outro amor!
Porque o amor é amor...não há novo nem velho, nem forte nem fraco
Há apenas amor!
E depois de tudo limpo, deitar-me-ei em mim....repousarei na minha paz
Respirarei fundo....e direi para mim mesma: Estás preparada para continuar o caminho!
E acredita! CONTINUAREI!

R.M.Cruz


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Entre dois mundos...

Os meus olhos buscam a luz dos teus...
Mas os teus não se voltam para mim, vagueiam na escuridão
Encaminhei os meus passos, para uma aproximação visivel
Tentativa inglória....
Os teus olhos não querem ver os meus, mergulharam na penumbra e lá teimam permanecer
O foco de luz que te lancei, não foi suficiente
Na densa escuridão mergulhas-te...desinteressado de tudo
E eu? eu vejo-te ir.....
Lancei fogo de artificio, na esperança que as cores te surpreendessem
Mas.....nada...
Queria te seguir, na esperança de te trazer de volta
Mas como posso eu seguir-te, se tu não deixas pegadas
Tenho medo de me perder...ao encontrar-te
Tenho medo...que nos encontremos no abismo
Um abismo que ninguém conhece....
Inclinas a tua  cabeça nas sombras, escolheste-as para companhia.... e eu? eu entro nos teus sonhos
E neles pinto a minha presença com cores  múltiplas de memórias
Memórias que trago no peito, de nós.
Memórias em que juntos olhávamos o horizonte...e lá construíamos o nosso mundo!
Um mundo de poesia...de sonho...de alquimia...
Por momentos enlaçávamos os nossos corpos num abraço
E voava-mos rumo a esse mundo...e ficávamos lá...nas gargalhadas constantes
De sinfonias por inventar...
  Sei que sofres...mas não sei como buscar-te...
Sei que choras...mas não sei como cessar esse rio...
Sei que sentes...mas não sei como anestesiar a tua dor...
Queria que me visses...como eu te vejo, mas as sombras não te permitem ver a minha luz
Queria ver o teu sorriso rasgado....mas esse escondeste-o para mim
Queria ser o que fui, como tu és no meu coração o que sempre foste...ÚNICO
Queria voar contigo, nos sonhos, nas quimeras, nos sentidos, na VIDA!
Mas sabes amor, qual a minha maior tristeza? É que eu sei que o indutor das tuas fragilidades
Sou EU!

R.M.Cruz
 




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Memórias...

Lá fora oiço os gritos das crianças...
Gritos, misturados com gargalhadas,  canções... frases
No vai e vem... o vento trás-me essa mistura de ruídos...soltos
Por breves momentos sou arrancada, deste lugar, e entro para dentro das minhas memórias
Revivo, e vivo momentos de criança
Também eu no recreio da escola...com um pedaço de caco faço riscos quadrados, não simétricos no chão...desenho uma macaca
Que feliz....que eu sou...criança pobre...pura inocente...
Oiço ao longe o palrar dos pássaros... passeio pelo recreio da escola e vou cantarolando
Quem quiser brincar comigo que se meta aqui...e aos poucos, um ,a um ...põem  os braços em cima dos meus ombros e marchamos....agora já é um coro...quem quiser brincar connosco que se meta aqui.
Damos a volta á escola umas quantas vezes....o cordão cresce... cresce...e divide-se em dois.
Vamos jogar ao "quem tem mais força"
Divididos ao meio e... puxámos até um, ceder e o cordão rebentar...
Agora brincamos aos policias e ladrões...engraçado eu quero sempre ser o ladrão, da-me um gozo fugir á policia...
Brinca-mos á Cinderela, eu sou a gata borralheira, adoro perder o sapatinho...qual sapatinho? eu ando descalça,  sinto o contacto com a terra, os meus pés são autenticas solas...calejados do chão,( sim porque os sapatos são só para o dia de Domingo)
Ainda sinto o cheiro de Domingo... um cheiro diferente, uma frescura...um sonho...uma quimera...
(Hoje os dias são todos iguais)
Ao domingo há toalha nova na mesa...e comida melhor, ao domingo a Mãe leva-me á missa, ao domingo calço os sapatos, e a Mãe coloca-me um laço cor de rosa nos cabelos e veste-me o vestido de chita florido....óh como eu me sinto linda...
Eu não sei distinguir a riqueza da pobreza...porque eu sou feliz, não tenha tempo para comparações...
É...ali estou eu a brincar com as minhas amiguinhas, no riacho que leva a água ao milho, fazemos moinhos de vento...com pauzinhos e bogalhos...eu tenho uma boneca de trapos feita pela minha Mãe, lembro-me que quando fiz 7 anos tive a minha primeira boneca de plástico, com cabelos, meu Deus! guardei essa boneca durante anos....
Aqui estou eu.... Orfã de pai aos 5 anos, nunca soube o que era ter um pai, por isso nunca me fez falta( a gente não ama o que não conhece)
De repente o toque da campainha, arranca a criança e trá-la de volta ao mundo dos adultos.
 Fui criança, fui feliz!
Quando quero ver essa criança...ausento-me um pouco e vou visita-la.
Incrivel, como um som, uma palavra um cheiro nos leva a viajar no tempo...
Sem passado...não temos presente!

R.M.Cruz